segunda-feira, 4 de maio de 2020

Anotações sobre o fim do mundo (VI)


Aproveito também a quarentena para os muito mais de 40 filmes atrasados, que vejo agora um a um, dos diálogos improváveis de Abbas Kiarostami ao cinema soviético, que, depois da debacle da cortina de ferro, começou a despertar meu interesse. E é um grande cinema, com diretores, técnicos e atores sofisticados, que mantêm a tradição iniciada no limiar do século passado, com Eisenstein e tantos outros. Aqui, duas dicas:
Fausto, de F. W. Murnau, baseado na obra do célebre Goethe, que explora o mito do homem que vendeu a alma ao diabo. O filme é de 1926 e é um dos grandes trabalhos de Murnau, um dos mais valorosos representantes do cinema mudo e do chamado cinema expressionista alemão. Além de ser baseado num gigante da literatura universal, o diretor é um pioneiro dos efeitos especiais no cinema e, para alcançar os resultados do filme, desenvolve uma obstinada construção de cada cena, algo praticamente impensável ainda na aurora do cinema no mundo inteiro.
Vassa, história de uma família burguesa da Rússia pré-revolucionária, enfrentando já os prenúncios da nova era política que dominaria o país até... até hoje. O filme baseia-se numa peça de Maksim Gorky, ele mesmo, autor do célebre A Mãe, que fez a cabeça da esquerda mais velha, como este locutor que vos fala. Gorky foi inicialmente um propagandista da revolução e, além de A Mãe, esta peça integra o repertório das obras de arte que o regime russo usou para incrustar seus dogmas. Pouco depois ele se revolta contra o regime de Stalin, mas aí já outra história. Fiquemos com o filme, que vale como registro histórico de um período, para quem quiser conhecer um pouco da história.

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