segunda-feira, 25 de julho de 2011

De João Sorrisão e da manicure de Amy Winehouse


Está no UOL: a apresentadora Glenda Kozlowski ficou chateada com o jogador Rivaldo, do São Paulo, que nos dois gols contra o Atlético de Goiás ousou ignorar uma dancinha supostamente simpática, a do João Sorrisão, um boneco virtual “concebido” na chocadeira do departamento de esportes da TV Globo. Digo supostamente, porque não sei se os demais telespectadores, como eu, acham graça numa tonteria daquelas. Fico pensando se as crianças de hoje em dia, tão antenadas na internet, jogos eletrônicos e maravilhas que tais, esboçam algum riso com o pobre-boneco-sem-graça que a Globo pariu para o momento solene das comemorações de gols.
São esquisitos os formuladores globais nas suas tentativas de dar mais graça ao futebol. A propósito, penso que eles, mais uma vez, diferente de mim, não gostam tanto de futebol. Enquanto eu penso quepoucos espetáculos mais interessantes, alegres e festivos como uma partida do velho esporte bretão, a Globo teima em macaquear a realidade com as invencionices QI-zero dos seus quadros, de Glenda ao engraçadinho Tadeu Schmidt. quem acha futebol uma peça enfadonha é capaz de achar que um João Sorrisão diverte as criativas torcidas que lotam os estádios brasileiros.
Rivaldo, um homem maduro, sucesso por onde passou, nos quatro campos do mundo, certamente tem senso de ridículo e personalidade para rejeitar esses maneirismos idiotas. Dancinha disso e daquilo, ou mesmo aquele cabelinho safado do mascarado Neymar, tudo isso é parte do lado espetaculoso do evento. O velho Messias, uma retroescavadeira que ocupava a lateral esquerda da outrora gloriosa Olímpica de Itabaiana, barraria esta patacoada com uma boa e eficaz cama de gato.
Por fim: quem diabos, nos labirintos jornalísticos da Globo, achou que era uma boa sacada entrevistar a moça que cuidou dos pés e dos pelos de Amy Winehouse quando ela veio em Brasil?

domingo, 17 de julho de 2011

Uma nova cena em Sergipe


Ontem à noite fui ver “Cabaret dos insensatos”, peça com textos de Brecht e Jean Genet, direção de Lindenberg Monteiro, do prolífico grupo Stultifera Navis. Como passei cinco anos fora de Sergipe, acabei me afastando desta nova cena cultural sergipana que brotou em vários segmentos da arte. O Stultifera é uma dessas iniciativas que anima a crença numa produção cultural local rica e descolonizada. Minha chegada na Aperipê é uma oportunidade única de defender o conteúdo local, objeto de meu mestrado ao estudar o mercado de TV por assinatura em Aracaju. No futebol faço isso desde menino: sou dos poucos aqui que não tem um time fora de Sergipe.
Tenho uma leve queda pelo Santos, da cidade que abrigou muitos de meus conterrâneos macambirenses, mas, ao contrário do que diz o bloco carnavalesco, simpatia nem sempre é amor. Minha paixão pelas três cores da faixa do Tremendão da Serra, o glorioso Itabaiana, é – para além da emoçãoum ato de resistência à pasteurização do futebol via televisão, baseada num modelo de negócio que empacota a adesão dos jovens a algum dos clubes presentes na série “A” do Brasileirão. Neste modelo, nãolugar para o pequeno e o local. Isto acontece também com a cultura e não por acaso a televisão é a mesma via de introjeção de uma cultura global hegemônica e massacrante. O mesmo ocorre com as pequenas línguas nativas ameaçadas de desaparecerem – são três mil que correm o risco de sumir neste século.
A força bruta da publicidade fez com o futebol algo que pretendia com a política: com o patrocínio das TVs, o teatro das torcidas nos estádios perde força e, a essa altura, nem é mais a principal fonte financiadora do esporte. Os estádios, contra toda lógica, têm sua capacidade reduzida. Vejam o exemplo do Maracanã, que chegou a receber 200 mil torcedores, mas, quando fechou as portas, há dois anos, não cabiam mais que 80 mil. Com a política intentou-se o mesmo: transferir da praça para a telinha o vigor do debate público. A platéia das praças foi esvaziada.

Stultifera e o moderno teatro sergipano

O Sytultifera Navis não é a única novidade nesta nova cena sergipana. Conversando com o público de sábado, me informam que cerca de 500 bandas musicais sobrevivem no estado, percorrendo circuitos alternativos, divulgando pelas redes sociais. Mas o caso deste grupo teatral em particular é emblemático, pelo trabalho que Lindemberg vem tecendo desde que aportou aqui, alguns pares de anos, materializado na luminosa surpresa da Casa Rua da Cultura, experiência inspirada no projeto Rua da Cultura, no Mercado, estendida para um espaço amplo para oficinas de circo e teatro, além das próprias salas para a apresentação de peças.
Fiquei comovido com a presença de um público jovem e arejado, interessado em cultura, lotando as três apresentações de diferentes peças na noite do sábado. A Casa apresenta peças em temporadas, em vez das exibições avulsas, criando um circuito consistente, baseado na oferta constante e na consolidação do hábito. A direção de Lindemberg em “Cabaret...” é leve e segura, com uma brilhante geração de atores, que muito me lembrou um moderno teatro que assisti na Faculdade de Teatro da UFBa, quando o genial Walter Seixas Jr. brindava o público com suas montagens glauberianas, do próprio Glauber a Nelson Rodrigues. Isto foi nos profícuos anos 80 e eu achei que tinha se perdido nas minhas melhores memórias. Minha ida à Casa mostrou que não, com a vantagem de que esta cena está aqui, na nossa casa.
    

terça-feira, 12 de julho de 2011

CEPOS DEBATES NESTA QUARTA EM ARACAJU


Nesta quarta, às dez da manhã, no auditório do CECH, no Campus da UFS em São Cristóvão, acontece o Cepos Debate Aracaju. O Cepos é o Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos-RS). O Cepos, do qual faço parte desde minha entrada no mestrado na Unisinos, em 2006, realiza reuniões mensais na nossa sede na Unisinos, em São Leopoldo (RS). Periodicamente, realiza debate em universidades de vários estados brasileiros. Nesta quarta é a vez de Aracaju, através do curso de Comunicação Social da UFS. O palestrante desta edição em Sergipe é coordenador do grupo, o professor doutor Valério Cruz Brittos, do PPGCom-Unisinos, que vai falar sobre o temaPadrão tecno-estético na TV brasileira: Rede Globo e modelos alternativos”. Farei a mediação, a partir do tema “O conteúdo local na televisão; tendências e perspectivas em Sergipe”, que foi o objeto do meu mestrado na Unisinos. O evento é aberto a todos os estudantes, professores, profissionais de comunicação e interessados em geral.



sábado, 2 de julho de 2011

Vá para a História, Itamar

Minha geração de esquerda, que fundou o PT e disputou com o velho Partidão (PCB) e PC do B a hegemonia das posições de vanguarda, salvo raras vozes estridentes, sempre cultivou um respeito pelos democratas alojados no guarda-chuva do saudoso MDB. O partido de oposição à ditadura, criado para fazer um previsível e comedido dueto com a governista Arena, ao mesmo tempo que legitimou o regime pós-64, alimentou as sementes das revoltas e reformas que, no futuro, mudariam o país. Dessa quadra consta o movimento Travessia, formado por parlamentares de esquerda que trabalharam o tempo inteiro pela abertura política e redemocratização do país.
A corrente Travessia, ou os chamados “Autênticos” do MDB, que a historiografia às vezes esquece, foi feita de gente do calibre de Marcos Freire, Fernando Lira, Cristina Tavares, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Jackson Barreto e... Itamar Franco, dentre outros. Essa turma impôs ao regime militar, em 1974, uma acachapante derrota, que em Sergipe representou a eleição de Gilvan Rocha para o senado contra as oligarquias plantadas há séculos no poder. Aqui, também deve ser registrada a heróica figura de José Carlos Teixeira, grande brasileiro de Itabaiana, filho de “seu” Oviêdo, que, junto com os irmãos Tarcício e Luís, da Norcon, ofereceram apoio político e material a tantos opositores banidos. Homens de coragem, que a História haverá de guardá-los na galeria do bem.
Itamar fez uma carreira de oposicionista, às vezes radical, ora destoando. Mas sem nunca deixar de ser íntegro e de cumprir, na presidência, um mandato surpreendentemente avançado, progressista, fincando as bases desta nação potência que se tornou possível depois do Plano Real. Que ninguém esqueça: todos, que gozamos do desenvolvimento econômico e da liberdade política no nosso país, devemos muito a Itamar. Sua morte, hoje de manhã, empobrece a melhor política, dos tempos em que esta era uma arte dos homens movidos pelo quase esquecido espírito público.