Em busca do coração de Luiz Antonio
Se
não bastar tudo o que já se disse sobre Luiz Antonio Barreto, para que
se imortalize sua invejável teimosia intelectual na defesa da cultura
sergipana e na persistência da sergipanidade, diga-se a favor dele que
era um companheiro de fidelidade inconteste, um parceiro de profícuos
bate-papos em roda de amigos, um sujeito perspicaz e bem humorado,
elegantemente mordaz e carinhoso com todos nós, os distinguidos com a
deferência de acolitá-lo na vida social.
Sim.
Era natural nele estabelecer um Cenáculo em torno de si e das suas
idéias, onde os circunstantes comungassem o pão da sua inteligência
privilegiada. Nos últimos tempos fui um pretenso
discípulo seu, com tal dedicação que, certamente, já estava perto de me
inscrever entre os seus privilegiados amigos do coração. Agora eu já o
sou, alçado pela dimensão de vazio que sua ausência causa ao meu dia a
dia.
Na
minha juventude tive sérios embates com Luiz, tomado pela santa
arrogância juvenil que me inspirava à rebeldia. Afinal, ele sempre foi
um medalhão. Mas Luiz sempre me foi caro, desde os anos 1970, quando
incitava a cidade à resistência cidadã com as armas da literatura “de
protesto”, editando a revolucionária revista “Perspectiva“, produzida a
partir de uma célula anárquica sediada na Galeria “Álvaro Santos”, onde a
geração de resistentes que o ouvia, se homiziava.
Era-me
imperioso conhecê-lo melhor. Deu-se, então, que na minha primeira
viagem ao Rio de Janeiro, Luiz me deu pousada em seu apartamento na Av.
Nossa Senhora de Copacabana - a bacanagem da época - onde ele vivia um
dos seus muitos amores com uma dama seqüestrada da vida provincial de
Aracaju para os seus braços, convenientemente exilados na capital
cultural do país.
É
esse Luiz Antonio, amante de grandes mulheres, cabra descolado e afoito
à sofreguidão da vida plena que eu quero acrescentar ao que se conta
dele.
No
cafezinho do Shoping, onde ultimamente comandava uma mesa avantajada de
admiradores, Luiz exercia a plenitude do seu gênio contando piadas,
resvalando o olho de macho satisfeito com a mulher que, em casa, amava
muito, com a espiadela incontrolável aos rabos de saia que passavam.
Gostava de pulha, um costume lagartense que o conservou menino e, embora
nunca verbalizasse por elegância e respeito, conservou-se refratário às
conquistas afetivas da modernidade, embora minha presença entre os seus
negasse qualquer intransigência.
Luiz
Antonio Barreto é uma ponte sólida entre a intelectualidade empedernida
das academias e o batente fogoso da vida de artista, um elo, (creio que
insubstituível) entre a realidade cultural sergipana e os alfarrábios
da história, um homem que perseguiu a boniteza da vida com nobreza e elegância e se findou respeitado, pelo que acertou na vida.
Luiz, guarde-me uma cadeira no cafezinho do céu.
Amaral Cavalcante