quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Fake News contra a democracia

Fake News contra a democracia

[*] Luciano Correia
Embora até então não tenha publicado nada a respeito, comento sempre, em conversas, que o senador Antonio Carlos Valadares, derrotado na tentativa de reeleição, é um dos pioneiros no uso das fake news em Sergipe.
Ser pioneiro de tamanha desgraça é um demérito, evidentemente, além do que o uso e abuso dessa prática que ganhou nome em inglês, longe de quaisquer vínculos com a modernidade, é um antigo e péssimo costume, associado à fofoca, à mentira, à leviandade e à dissimulação.
Ou seja, não há nenhum verniz de novidade num velho político que usa o Twitter para distorcer fatos objetivos ou criar narrativas falaciosas a partir dos próprios interesses. A política, mesmo ela, não é um oceano de subjetividade, no qual verdades e mentiras navegam ao sabor do dono da palavra.
A menção ao político aposentado pelo povo em 7 de outubro é porque hoje mesmo a campanha de seu filho, que funciona à sua imagem e semelhança, afirma que seu governo - se eleito fosse – não faria perseguição aos sertanejos do Estado.
A manchete, por si, já denuncia a primeira fraude: à qual perseguição se refere o jovem velho candidato do PSB ao Governo? Alguém aí tem notícia de alguma perversidade praticada contra algum contingente da população, especificamente moradores da região do sertão?
Para fazer tal afirmação, a fábrica de fake news mobilizada pelo inspirador do marketing pessebista teria que, pelo menos, dar conta de uma série de aberrações e injustiças cometidas. Mas não o faz, porque, como se sabe, rigorosamente, elas não existem.
Passando da manchete ao texto da não-notícia divulgada por esse espécie de (aí, sim) marketing do mal, chegamos na pior parte. Imaginem vocês que, num quadro de violência generalizada e de atos criminosos explodindo em todas as regiões do país, o candidato, no afã de conquistar uma meia dúzia de infratores, protesta contra a apreensão de motos pelo poder público e - ainda mais patético - contra a cobrança para a necessária regularização desses veículos.
Definitivamente, invertemos todas as lógicas, com o errado no lugar do certo. Aquilo que os tempos atuais já não permitem, graças à eficácia dos poderes públicos e de seus órgãos fiscalizadores, virou programa de campanha de um candidato que se define como “novidade” e “mudança”. A novidade seria o desprezo público, anunciado em matéria jornalística, pela prevalência do império da lei?
Para comprovar as afirmações feitas aqui, mais um fato revelador da prática do embuste como forma de distorcer os fatos e auferir vantagens eleitorais. Me refiro à divulgação de um lamentável episódio vivido pelo candidato Belivaldo Chagas na TV Atalaia, quando foi instado de forma grosseira e desrespeitosa, ainda fora do ar, pelo apresentador do telejornal Balanço Geral.
Aqui, atentem bem, não se está discutindo o direito de exercer o jornalismo e a opinião. Muito pelo contrário, o que se verificou foi o abandono completo dos protocolos do jornalismo, ferramenta e conquista da sociedade justamente para promover o esclarecimento (uma herança do Iluminismo).
Se alguém atentou contra o jornalismo e a liberdade de expressão neste caso foi o profissional encarregado de defendê-los, ao promover a espetacularização de uma notícia e a submissão do governador-candidato a uma abordagem inquisitória. Seja o entrevistado o governador ou o mais humilde dos cidadãos, merecem o respeito de quem entrevista, sem adjetivações.
Novamente, partidários do candidato Valadares Filho deixaram de lado quaisquer escrúpulos e, em nova forçação de barra, viralizaram nas redes trechos da gravação do episódio, buscando criar novo contexto para o que, a rigor, foi uma injustiça perpetrada contra Belivaldo - o próprio apresentador implora literalmente o perdão de seu interlocutor.
Claro que há aí alguns mistérios não esclarecidos, como a gravação do áspero diálogo, mesmo durante o intervalo do programa e, o mais grave, seu vazamento. Mas essa já é outra história. Nos contentemos (mesmo?), por ora, com a fabricação dos fake news e seus estragos na democracia.
[*] É jornalista.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

É o que venho dizendo há algum tempo - já o fiz no meu último livro, de 2015. O modelo de negócio da radiodifusão (sobretudo a Televisão) vem num declínio constante desde a consolidação da convergência dos meios. O que é este momento da consolidação? Trata-se do instante em que novos contingentes de consumidores/usuários migram para outras plataformas: o computador, tablets e, sobretudo, o celular. Um sintoma disso: grande parte das gerações mais jovens, dos 20 anos para trás, consome conteúdos audiovisuais via essas novas plataformas. Mudou a forma, mudou o conteúdo. Neste novo ambiente, é inimaginável que essa garotada criada sob novas gramáticas (eles mudam até a forma de escrever e subvertem, ao seu modo, a chamada língua culta), esteja interessada, por exemplo, em telenovelas. Novela é do tempo de minha mãe, dos dramalhões radiofônicos do Direito de Nascer, importados de Cuba e México. A Globo dominou a forma com Glória Magadan e construiu uma estética brasileira para o produto, que acabou virando referência e sucesso no mundo inteiro. Era o tão referido Padrão Globo de Qualidade. Mas o mundo mudou e nossos heróis obsolesceram sentados no trono de um apartamento com as bocas escancaradas cheias de dentes e ofuscados pelo próprio brilho. Mudou a tecnologia para produzir e consumir essa cultura pop que alimenta o circo/círculo da indústria cultural, como assim também mudaram os repertórios. A TV como conhecemos, assistida na grade de programação linear, que um dia foi uma revolução no entretenimento, já começou a morrer faz tempo. A notícia em questão é só sintoma. A causa é a agonia do modelo de negócio e a crise (e morte) das velhas narrativas televisivas.





Pela 1ª vez em 14 anos, Globo fica de fora do Emmy Internacional

 
Juliana Paes na pele da Bibi Perigosa de A Força do Querer: novela aclamada não concorre a prêmio. Foto: ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO
Luciano Guaraldo do site Notícias da TV informa que, pela primeira vez em 14 anos, a Globo não terá nenhum produto original na disputa pelo Emmy Internacional. Os indicados foram anunciados na manhã desta quinta-feira (27) e, apesar de o Brasil concorrer em seis categorias, a liderança ficou com a série 1 Contra Todos, da Fox. GNT e HBO também foram lembradas pelos votantes do prêmio.
Fenômeno de audiência e de crítica, A Força do Querer não foi aclamada. Isso marca a primeira vez desde 2010 que o Brasil não emplaca uma obra no quesito melhor telenovela, categoria no qual o país levou seis dos dez troféus já entregues.
Outro sucesso no Ibope, O Outro Lado do Paraíso não pôde concorrer à premiação deste ano, que contempla produções transmitidas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2017. Apesar de ter estreado em 23 de outubro, a novela de Walcyr Carrasco exibiu a maior parte de seus capítulos em 2018 _por isso, só competirá no Emmy Internacional do ano que vem.
A Globo só será representada na premiação na categoria telefilme ou minissérie, com José Aldo – Mais Forte que o Mundo. A obra, no entanto, é uma produção da Globo Filmes para o cinema, que foi reeditada como uma minissérie para a televisão.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Crônica pebolística

Como se vê aí no vídeo, acertei o placar, portanto, entendo de futebol. E ao entendê-lo, vou analisá-lo. A partida de hoje contra a Costa Cêra me fez gritar um gol do Brasil depois de longos anos, pelo sofrimento e pela injustiça de um provável 0 x 0. Comecemos pela rebeldia inútil de Neymar, que, aos 48, logo após o gol de P. Coutinho, resolveu dar um banho-de-cuia no defensor adversário, quando o razoável era cobrar um escanteio como os homens cobram e tentar o segundo gol. Mesmo ele precisando se reabilitar, depois dos 180 minutos de Copa mais pífios de sua história, ainda comete uma irresponsabilidade dessas. Daí temos que falar de Tite, que arrumou o time desde há dois anos e vem de resultados extremamente favoráveis. Um jogador que faz aquilo é jogador que se governa, que não acata a autoridade de ninguém. E treinador tem que ser um cientista do futebol, um paizão psicólogo e um delegado-capataz de sua equipe.

Ontem, a charge de um jornal dava conta dessa frouxidão de comando, digamos, espiritual , do escrete canarinho. Mostrava os jogadores, todos eles, diante de um espelho, cada um fazendo seu penteado, um cocó, uma trança, black power, o diabo. Uma charge disse tudo. A entrada de Neymar no jogo contra a Suíça, com aquele penteado pra chamar nossa atenção, dá conta do clima de pode tudo. Neymar é um pobre menino rico.... e de um tremendo mau gosto. Se tivesse gente aprumada no entorno, diria: corte esse cabelo, moleque, que tá parecendo uma mistura de Clodovil com Dercy Gonçalves. Parecer com um ou com outra, já era demasiado. Imaginem a mistura.

Se eu fosse treinador de um time, não tinha conversa: era máquina zero em todos. Cabeça pelada pra evitar excesso de frescura dentro e fora das quatro linhas. Vão dizer que isto é bobagem. Não é. Ainda mais num país em que a crônica esportiva (se fosse jornalismo não se chamava crônica) considera mandinga um elemento importante nas suas análises e não raro apela a pais de santo para complementar suas abalizadas opiniões. Tenho dito.