segunda-feira, 4 de maio de 2020

Anotações sobre o fim do mundo (X)

Em 1928, pouco antes da Revolução de 30, os conspiradores se articulavam dentro e fora do país. Oscar Pedroso Horta, jornalista do Diário da Noite, depois Estado de S. Paulo, faz uma perigosa viagem de monomotor de Santos a Porto Alegre e depois a Montevidéu, para levar uma encomenda de alguns mapas estratégicos para o movimento. Foi à pedido de Siqueira Campos, ele mesmo, o do movimento tenentista, herói do Forte de Copacabana e membro da Coluna Prestes, esse que dá nome a um importante bairro de Aracaju. Deveria entregar os tais mapas a Prestes, exilado no Uruguai. E agora é ele, Pedroso Horta, quem conta, a Sebastião Nery, no seu “Ninguém me contou, Eu vi”:
De repente, mal eu chegava, aparece no hotel um homenzinho muito magro e muito feio, calçado em botinas de elástico:
- Sou o comandante Luís Carlos Prestes.
Percebi logo que era um agente da polícia brasileira.
- O senhor não é Oscar Pedroso Horta?
- Sou.
- Não trouxe uma encomenda de São Paulo para mim?
- Não o conheço. Estou aqui a negócios, não trouxe nada.
O homenzinho muito magro e muito feio foi embora. Tratei logo de trocar de hotel. Peguei um táxi e fui ao endereço de Luís Carlos Prestes. Lá, para espanto meu, encontrei exatamente o homenzinho muito magro e muito feio. Era ele mesmo.

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