segunda-feira, 4 de maio de 2020

Banese, um banco kafkiano

O escritor tcheco Franz Kafka, autor, dentre tantas obras célebres de “A Metamorfose”, ficou conhecido pela complexidade de situações que atravessam seus enredos, explorando mecanismos psicológicos considerados absurdos. Dessa visão da vida em sua obra resultou o adjetivo “kafkiano” para designar absurdos, irracionalidades etc. Em terras sergipanas, um modesto banco estadual exibe doses fartas do escritor tcheco na sua agência do Calçadão da rua João Pessoa, pomposamente chamada de Magazine. Desde outubro passado este modesto locutor que vos fala aceitou a espinhosa missão de responder pela administração do condomínio onde me escondo há 25 anos. Desde outubro faço pagamentos mensais, por cheque, esse objeto em extinção no resto do mundo. Mas, se o Banese quer cheque, tome-lhe cheque. Desde então, a tal agência Magazine desenvolve um divertido jogo contra essa alma indefesa. Divertido pra eles, os sádicos funcionários que operam aquela casa dos absurdos. Por algumas vezes tive que assinar novamente cheques encaminhados para pagamentos, por “divergência de assinatura”. Depois de assinar papéis por mais de quatro décadas, caixas da refrigerada Magazine decidem quando minhas firmas são verdadeiras ou falsas. Sabe-se lá quem, talvez Deus, concedeu poderes tão fortes aos desconfiados servidores. Como parte do jogo de diversão dos sádicos caixas, agora, depois de sete meses, resolveram que todo cheque deve trazer duas assinaturas, a desse infeliz síndico – profundamente infeliz! – e de novo personagem, o sub-síndico, que deve ser tirado do sossego de sua quarentena para rabiscar exigências de última hora, invenções inúteis da burocracia baneseana, novas regras do jogo inventado por eles. O resultado dessa história, para não cansá-los mais, é o acúmulo de dívidas, como se meu honesto e pontual condomínio fosse um reles mau pagador, um caloteiro da praça, irresponsável como as medidas de bancários déspotas que vivem de mandar à merda dos direitos do consumidor. O detalhes finais: desde antes da quarentena, dezenas e dezenas de vezes eu tentei falar por telefone com a metida agência, que, de tão convencida, jamais atendeu minhas desesperadas ligações. Agora, com o funcionamento meia-boca, é que não atendem mesmo. Procuro por gerentes, sub-gerentes, sub-subs, um simples contínuo que seja, mas meus gritos não são ouvidos. Sem comunicação por telefone, esse meio inventado ainda no século 19, imagine e-mails, zaps ou instas, essas modernidades que fazem os sub-subs baneseanos arderem de ojeriza. Ir pessoalmente, nem pensar: a repartição fechou. Resumindo, não há peste no mundo que consiga falar com os inacessíveis buRRocratas da agência Kafka, ops, Magazine. Vou cortar os pulsos. Ou mudar de banco.

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