segunda-feira, 4 de maio de 2020

Anotações sobre o fim do mundo (VII)

O mundo foi tão dominado pelo discurso do produtivismo que até velhos esquerdistas são flagrados volta e meia discutindo prejuízos, queda nas bolsas, falências múltiplas e coisas assim. Como se fosse deles cada centavo supostamente perdido. Digo supostamente, porque a loucura capitalista nos empurrou para a riqueza virtual, a financeirização da vida, que fez tudo se tornar volátil em segundos. A Rússia brigou com os sauditas de noite e a Petrobrás amanhece valendo menos 50 bilhões. Ah, briga resolvida. E a Petrobrás ganha outros tantos no mesmo lapso de tempo. O jornalismo, bastião de resistência ao ordinário – como dizia a amiga Ilma Fontes - entrou nesse jogo, se permitindo roteirizar a chorumela neoliberal, conferindo relevância ao seu diário de iniquidades. Só uma peste que deixa no mesmo nível de insegurança o primeiro ministro inglês, o príncipe Charles e a cachorra de Corí para nos chamar de volta à realidade. Andam dizendo que depois dessa gripe o mundo não será mais o mesmo. Quiçá que sim, afinal, como disse Caetano já há algum tempo: alguma coisa estava fora da ordem. Depois dessa vai ficar mais fácil pensar livre, sacudir velhas ideias caiadas como novas e derrubar certezas que não resistiram a uma gripe. Novamente Caetano: la leche buena toda em mi garganta, la mala leche para los puretas.

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