sábado, 31 de janeiro de 2015

Discurso de despedida da presidência da Fundação Aperipê de Sergipe, em 28 de janeiro de 2015

Meus parceiros da querida Fundação Aperipê,

Primeiramente quero dizer que o sentimento que me move agora, ao deixar a presidência da Fundação Aperipê, é de alegria, nunca de tristeza. Alegria, porque, lá atrás, ao tomar posse, marcamos no ski line do infinito algumas metas a serem encampadas. E hoje, três anos e meio depois, eu digo com segurança: se não cumprimos todas, mas avançamos muito, sobretudo nas questões fundamentais, como a digitalização, a qualificação da programação dos três veículos da casa, a implantação, pela primeira vez na sua história, da racionalização administrativa, financeira... A adoção do planejamento estratégico, outra figura desconhecida na casa e da consolidação de um padrão Aperipê próprio para as programações das rádios e da TV. Foi graças a este padrão que inserimos nossa FM no círculo da Arpub, a associação das rádios públicas brasileiras, e a TV Aperipê nas rotinas produtivas da TV Brasil. Seguramente, foi esse trabalho que nos fez respeitados na EBC, a Empresa Brasil de Comunicação, com quem dialogamos no mesmo nível, com a convicção de que dialogamos no mesmo plano dos grandes canais do eixo sul-sudeste-Brasília, com quem tivemos, durante todo o tempo, uma interlocução respeitosa e de reconhecimento mútuo. Para não me alongar, vou apontar apenas o exemplo do programa Estação Periferia, o primeiro programa da televisão sergipana exibido em rede nacional (27 estados, mais de 100 canais) e rede internacional, pela TV Brasil Internacional, em 68 países. Levamos para o Brasil e o mundo não só os modos de vida, a cultura e a beleza sergipanas, mas sobretudo um modo sergipano de fazer televisão. Dissemos ao mundo: nós somos capazes de produzir nossas próprias gramáticas audiovisuais para disputar a atenção do grande público presente na convergência digital.
Quando aqui cheguei, essa jóia da cultura e do povo sergipanos, que é a Fundação Aperipê, era o patinho feio da administração estadual. Era um dos poucos espaços que nem mesmo os políticos reclamavam para seus quadros. Na posse, prometi apenas uma coisa ao governador Marcelo Déda: vou honrar o cargo e dignificar minha gestão. Eu sabia que daria certo, por duas razões bem simples: 1) me sentia capacitado para tal; 2) montaria uma equipe que iria fazer, comigo, a passagem da velha para a nova Fundação Aperipê, digital, cumprindo a finalidade nobre da educação, cultura e do jornalismo cidadão. Sempre conferi ao exercício desse cargo uma importância que só eu sei, uma importância me enchia de orgulho e alegria, mas não uma importância banalizada num ato pueril como bater no peito e achar as nomenclaturas e os cargos nos bastam. Não. A Aperipê era importante porque eu a sabia instrumento de mudanças objetivas, concretas, da construção e reforço da identidade sergipana, de nossa interlocução com o mundo global no mesmo patamar de quem também se sabe dono de uma cultura superior, a cultura sergipana; de quem elabora suas próprias sintaxes, ferramenta para a produção do conteúdo local, justamente a matéria prima da cultura imaterial com a qual ingressamos no extenso universo multicultural das disputas simbólicas.
Os desafios eram os de sempre – e tão batidos, que nem vou referi-los. Mas não vim para choramingar pelos escassos recursos, materiais ou humanos. Vimos para realizar na adversidade. E foi nesse ambiente de eterna crise que renegociamos dentro do próprio governo a restauração da credibilidade perdida. Eu e Mônica peregrinamos por todos os Crafis e equivalentes da administração estadual, prometendo, tão somente, cumprir as regras, prazos, enfim, exercer nossa atividade precípua com competência e dentro dos cânones do serviço público, sem atalhos, remendos, sem fazer de uma repartição pública uma ação entre amigos, sem permitir a perniciosa prática dos variados tipos de assédio, que, lamentavelmente, é tão comum no nosso país; sem nepotismos ou outras modalidades de benefícios aos nossos; sem perseguições ou injustiças. Ainda temos muito que avançar, não só na consolidação do PCCV, mas, mais que isso, na valorização e reconhecimento da comunicação pública, desde o ambiente interno, do governo, até as demais esferas, sem esquecer que essa finalidade só se cumpre com a valorização daqueles que materializam as metas e os discursos, os trabalhadores que operam o milagre de colocar no ar, diariamente, duas emissoras de rádio e uma televisão, máquinas que funcionam com lógicas de mercado, mas com engrenagens do serviço público.
Fizemos tudo isso, nos permitam a imodéstia, com competência, racionalidade e transparência, um padrão raro na atual conjuntura do serviço público brasileiro. Otimizando o uso de cada real disponível, fazendo reengenharias diárias para o melhor aproveitamento dos recursos humanos. Certos de que os recursos do tesouro estadual, que já não eram generosos com nossa Fundação, são cada dia mais escassos, apostamos nas parcerias locais para viabilizarmos o apoio cultural para algumas produções. Focamos prioritariamente na prestação de serviços à EBC, através do contrato do jornalismo, vendendo conteúdo local à rede. Foi daí, economizando cada centavo, como uma dona de casa rege a economia doméstica, que juntamos os recursos para fazer a passagem de patamar tecnológico, de analógico para digital.
Assim, ao concluir essa etapa muito rica no currículo dos que compõem nossa equipe, gostaria de agradecer a todos e, na impossibilidade de citá-los um a um, me permitam os demais, homenageá-los nas figuras de Mônica Passos, diretora administrativa e financeira, com quem sofri diariamente as dificuldades, mas em quem encontrei talento e disposição para enfrentá-las e vencê-las: minha grande e fiel colaboradora, que ajudou a fazer uma Aperipê grande. Jefferson Andrade, esse touro de quem se dizia indomável, mas com uma inteligência maior do que o propalado temperamento: um lutador incansável, uma das maiores referências das telecomunicações do nosso estado. A Rosângela Dória, uma guerreira fazendo no seu cotidiano o milagre da multiplicação dos parcos recursos, para registrar as ações de governo, atender à TV Brasil e, principalmente, servir à sociedade civil sergipana, com um jornalismo politizado, mas sem partidarizar sua atuação, nem se submeter ao corporativismo daninho, uma praga que está destruindo o estado brasileiro. Por fim, ao meu provedor musical Alex Santana, cúmplice na formatação de um conceito de rádio que fez da Aperipê FM uma das melhores do Brasil. Porque criar um canal de música, mesmo que bem selecionada e antenada com as novas emergências, não significa necessariamente fazer uma rádio arejada, que passeia sua programação pelos vários públicos ouvintes, sem desprezar o jornalismo cidadão e a prestação de serviços.
Quero agradecer ao meu amigo Belivaldo Chagas, novamente vice-governador, mas que, como secretário de Educação do exercício anterior, portanto presidente do Conselho Deliberativo da Fundação Aperipê, foi parceiro da dor e da alegria na saborosa aventura de conduzir esta casa. Belivaldo sabe muito bem das dificuldades e, como presidente do Conselho, contribuiu enormemente para as realizações da Fundação Aperipê. Por fim, quero desejar as boas vindas a um amigo de longas datas, um companheiro de trabalho em vários veículos por onde passamos, um profissional ético e competente, cuja escolha acertada é garantia de continuidade dos avanços e conquistas. Messias Carvalho estava afastado do rádio, quando fui buscá-lo para encarnar o nosso jornalismo cidadão nas rádios Apeipê. E quando ele mal se acomodara no microfone, joguei no seu colo um novo desafio: fazer o programa também na TV. De modo, meu querido Messias, que a passagem para seu comando é a mais suave e tranqüila possível, sob todos os aspectos. De parabéns você e o governo que o terá como auxiliar dos mais importantes.
Mas quero agradecer, fundamentalmente, ao governador Marcelo Déda, que me convidou para – citando novamente Alex Santana – o melhor emprego do mundo (porque quando a gente gosta do que faz, o trabalho parece brincadeira). Ao governador Jackson Barreto, que assumiu efetivamente em 2013 e me confiou a direção da Fundação até este momento, me dando a raríssima oportunidade de trabalhar pela comunicação e cultura de Sergipe. Tudo o que nossa geração de combatentes irrequietos queria era justamente isso: a chance de realizar. E os governadores Marcela Déda e Jackson Barreto, ao me nomearem, disseram: faça! Nós fizemos e os frutos ficam agora para o julgamento dos que se interessarem por história. Muito obrigado!