quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Bonner e o conto da falsa entrevista



Quando vi as manifestações de protesto contra a postura de William Bonner na entrevista com Aécio, matei a charada: “isso é factóide pra pegar a Dilma”, pensei com meus botões. Bonner foi um pouco duro, para angariar credibilidade jornalística, produto muito escasso na Globo (nas organizações inteiras) há séculos, desde – e principalmente – quando vivia o Papa Roberto Marinho. Tudo combinado, com perguntas possivelmente discutidas antes com o candidato tucano, a ver pelo fato dele não demonstrar surpresa com a “dureza” das perguntas.
O mesmo procedimento, em menor grau, foi adotado na entrevista com o finado Eduardo Campos. Dilma, portanto, que preparasse o cangote. Não sei se preparou, embora todas as perguntas fossem previsíveis. Aliás, não havia nem como pensar em outro tipo de perguntas. Ela esperava as perguntas, mas, talvez, sem a agressividade demonstrada até pela abobalhada Patrícia Poeta.

Uma não entrevista

A rigor, Dilma não estava ali para ser entrevistada, mas confrontada, quiçá provocada mesmo. Tinha então que negar peremptoriamente a farsa da falsa entrevista. Se era debate, que fosse para o debate, com a agressividade necessária para não permitir que uma patricinha Poeta fizesse cara de nojo para a Presidente da República. Mas não. Faltou o que tem faltado ao governo dela, no campo do enfrentamento a essa direita traiçoeira/trapaceira. Ir pra cima, discutir critérios jornalísticos, informação como direito público, manipulação da verdade, sensacionalismo e outras desgraças que só ela, ordenadora de vultosas verbas para a mídia privada, tem conhecimento mais que nosotros.
A rigor, essa guerra vem sendo perdida há tempos, desde que o famigerado Escândalo do Mensalão foi transformado em novela diária, com capítulos e desdobramentos minimamente planejados no jornalismo da Globo, sem reação de uma política de comunicação pública, não para dar voz ao governo e seus acusados, mas fazer os contrapontos necessários e, principalmente, colocar na ordem do dia uma comunicação plural, com múltiplas versões, sem as torpezas emanadas do espírito torpe do “doutor Roberto”, desde o além, e seus capatazes, em terra.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

João Ubaldo, quase conterrâneo



Quem conhece a obra do estupendo João Ubaldo Ribeiro sabe que num dos seus livros preguiçosos, aqueles relatos a que um grande escritor dedica-se (ou delicia-se) só por brincadeira – ou para cumprir contratos com editores – “Um brasileiro em Berlim”, ele dedica um improvável capítulo à sua passagem por uma de suas pátrias, o nosso pequenino Sergipe. Improvável, porque deveria tratar, tão somente, do relato de sua passagem pela capital alemã (ainda sem a unificação das duas), no período em que cumpriu uma bolsa para escritores latino-americanos. Não sei as razões, mas me surpreendi quando, ao ler o livro, me deparei com este capítulo de parte da sua vida em Aracaju.

Manoel Ribeiro, juiz em Sergipe
Todos os que fazem referências ao talento do escritor, logo citam a erudição de João Ubaldo. Esta marca do autor vem praticamente de um saudável despotismo, praticado pelo pai, Manoel Ribeiro, juiz por muitos anos em Sergipe, ele, por si só, responsável por tantas histórias. Quem quiser enriquecer seu repertório converse com gente como João Augusto Gama, um compilador de grandes histórias da província. O juiz Manoel Ribeiro, homem culto, rigoroso e conservador, obrigava o menino João à interminável leitura dos principais clássicos da literatura, tomadas depois como lição por um pai-professor, cioso do futuro de seu filho homem.
Eis aí um bom castigo, embora só o pequeno João pudesse mensurar a solidão a que era submetido no gabinete de leitura da casa na praça Camerino (se não me engano), torturado pela algaravia dos meninos da vizinhança e colegas de escola, extasiados com as brincadeiras de rua e o jogo de futebol. Ubaldo deu nisso: um dos melhores escritores brasileiros, imortal da academia, embora este último título pouco ou nada importe na biografia de um autor já imortalizado pela grandeza de sua profícua produção literária. Se a lenda da vida eterna valer, o velho Manoel Ribeiro hoje está sorrindo pela chegada de seu filho querido, fruto bem plantado e melhor colhido.

Ubaldo e Getúlio
Há uma unanimidade, entre letrados, de que o melhor livro de João Ubaldo é justamente “Sargento Getúlio”, a famosa obra imortalizada no cinema pelo filme de Hermano Penna, filmado (gravado, não: filmado mesmo, numa câmera de 16mm) aqui nos nossos sertões de Canindé, Poço Redondo, um road-movie cangaceiro desde Paulo Afonso até as franjas da Aracaju do começo do século XX. O livro é uma denúncia das mazelas do Nordeste, uma realidade dominada por jagunços e coronéis, ambos confundidos com o próprio poder político. O protagonista, Getúlio, é figura de carne e osso e conheço gente em Aracaju que o conheceu. No filme de Penna ele é ninguém menos do que Lima Duarte, um dos grandes da dramaturgia nacional, que percorre as veredas sergipanas numa velha fobica (assim se chamavam os carros velhos de antigamente) ao lado do fiel motorista Amaro (o não menos grandioso Orlando Vieira).
A brutalidade de Getúlio não é maior do que a que prevalecia na sociedade brasileira da época, a mesma que permitiu, em Sergipe, o prolongamento do mesmo estilo com seu irmão Barreto Mota, o célebre e temido comandante da polícia estadual por décadas. Como jornalista, fui contemporâneo desses tempos, mas o que me vem à memória faz parte do ocaso de sua vida, dele, Barreto Mota, já aposentado, um velhinho bem-humorado e casca-grossa rebatendo piadinhas no cafezinho da Solanches, de Raimundo, no Calçadão da Laranjeiras.
O filme virou cult do cinema brasileiro, quase artesanal, com uma só câmera, fazendo planos e contraplanos (imaginem o trabalho que deu) e com uma penca de grandes sergipanos brilhando na telinha. Lá estão, além do nacionalmente consagrado Orlando, Amaral Cavalcante, Antônio Leite, Luiz Antônio Barreto e tantos. Amaral atuou também como produtor local. Foi ele quem conseguiu o revólver usado por Lima, emprestado, adivinhem de quem? Acertou quem pensou em Barreto Mota.

terça-feira, 8 de julho de 2014

O ex-país do futebol (ainda bem!)


Matéria do UOL, pra introduzir o assunto:

Capitão do pentacampeonato, Cafu afirmou que foi expulso do vestiário da seleção brasileira após a derrota contra a Alemanha por José Maria Marin, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que disse que não queria "pessoas estranhas" no local.
"O presidente José Maria Marin disse que não queria nenhuma pessoa estranha no vestiário. Eu coloquei que não sou uma pessoa estranha, só estou aqui para dar um abraço nos meninos e dar um carinho e um conforto para eles, não quero falar mais nada. Só vim aqui porque nesse momento os meninos precisam de apoio e foi isso que eu fui fazer no vestiário. Fiquei surpreso quando fui praticamente expulso do vestiário porque o Marin disse que não queria ninguém estranho lá. Eu, humildemente, me retirei do vestiário" declarou Cafu, à Rádio ESPN.

Comecemos com esta matéria que mostra o inacreditável: enquanto a gente pensava que todos os envolvidos com essa lambança estavam rezando de joelhos e pedindo ao bom Deus que poupassem seus rosados pescocinhos, este pulha, Marin, o capo mor da CBF, dedicava-se a... expulsar um campeão mundial dos vestiários da mulambenta seleção humilhada. Eis aí uma ocorrência da nefasta cordialidade brasileira, de que falava Sérgio Buarque: este cidadão deveria, há muito, ter suas tripas penduradas na feira da buchada. Mas estava ali, impávido, colossal, dando xingas... Vai Brasil-sil-sil.

NÃO COMEÇOU HOJE

Não vamos discutir o trágico 7 X 1, essa nódoa que manchará nossas pequenas biografias para além túmulo. Imaginem: o goleiro Barbosa tomou um gol do Uruguai no finalzinho do jogo, numa fatalidade, no longínquo e desconectado ano de 1950. E essa tragédia se esparramou até nossos dias. Essa bagaceira do Mineirão, internética e on line, vai castigar os meninos de hoje pelos rastros de sua existência. Para entender a tragédia, somos obrigados a voltar, pelo menos, à última “reforma” do nossa entidade de futebol. Nosso problema, como sabemos, é que toda vez que falamos em mudar algo, seguramente estamos tratamos, desonestamente, de não mudar nada.
Lembram que na última crise do futebol nacional, motivada pelo enésimo caso de corrupção do capo Ricardo Teixeira, resolveram “moralizar” a CBF com a unção de José Maria Marin, político velho e malufista, cartola manjado nas maracutaias da federação paulista? Marin na CBF era, sem tirar nem por: Ricardo Teixeira + Havelange, sogro de Teixeira. Este último, que pungou no tri de 70 para montar uma organização poderosa e secreta, levou para a Fifa um jeitinho bem brasileiro de apodrecer uma instituição, pela corrupção.

FELIPINHO

Sou dos que um dia acharam Felipão indispensável, embora, dessa vez, torcesse pela escolha de Muricy Ramalho. Sou meio burro em futebol (e em vários outros itens), mas fiquei incrédulo quando descobri que entramos numa Copa do Mundo sem meio-campo. Como assim, sem meio-campo? É como se um time começasse uma partida e se esquecesse de escalar o goleiro, quase isso. Mas ninguém falou isso. Nenhum das senhoras e dos senhores que me leem agora. A mídia? Qual mídia? Alguém aí sabe de alguma atitude que não seja a da Globo? Mas dessa trataremos mais tarde.
Flipinho, não o célebre viado itabaianense, mas este homem muito menor, precisa dizer o porquê da fidelidade a jogadores como Fred, aquele poste incompetente, piada nacional, que, entretanto, se arrastou até o último minuto de nosso vexame. Se fosse nas rodas maldosas de Itabaiana, diriam que “essa história tem cu no meio”. Não é o caso. É coisa de dinheiro. A rigor, além dos acordos de patrocínios, a sujeira dos bastidores, o rei Felipão estava nu com sua precariedade: não faltava só meio de campo. Faltavam técnica, tática, esquemas, jogadas, treinamento. Lembrando aquela velha piada do carnavalesco Clóvis Bornay: parece que a seleção só foi à batalha pra comer a merenda.

O FUTEBOL ARTE

Lembram daquela velha história de que o Brasil praticava um futebol-arte, agressivo, alegre, despojado e perigoso? Esqueçam essas qualidades. Felipinho deu o tom de sua pequena alma naquela partida contra a Colômbia: depois de fazer 2 a zero, recuamos covardemente, de maneira feia e burra, para um futebol de resultados. E quase nos complicamos, como bem sabem os corações canarinhos que quase enfartaram. Sequer levaram em conta o (mau) exemplo do México, que jogava lindamente contra a Holanda e, por isso, fez um gol e, de dominante, passou a dominado. O resultado todos sabem. Ponto para o futebol autêntico. Derrota para os calculistas da retranca. Cá pra nós: um time que recua da Colômbia em casa, sob o calor de 70 mil pessoas, não merece nem ser quarto lugar.

NEYMAR

O mundo inteiro já sabe que se trata de um craque. Mas aqueles pulinhos para cavar falta, o anti-futebol que ele alterna com as jogadas geniais, só poderia dar numa cama-de-gato colombiana. Um jogador que se respeita, ainda mais no começo da carreira, não pode se valer do cai-cai. Outro ponto negativo para Pai Felipão: que bosta de líder é ele, que não acaba com essa palhaçada no time dele? Se eu fosse treinador, não tinha brinquinho, cabelo armado, descolorido, loiro, black power, tatuagem, nada... Sou adepto do estilo João Saldanha. Essas frescuras não podem entrar em campo. Nisso, a mídia (a mídia, quem?), a Globo, é a principal co-autora.
A miséria do jornalismo não tem limites. Não me refiro àquela pobre moça da Band que, ao ver um jogador da Holanda com o nome do país às costas, anunciou: “agora vemos o jogador Nederland”. Na manhã de hoje, no Bom Dia Nada da Globo, outra mocinha bobinha veio com essa: “A Alemanha vai jogar com as cores do Flamengo. A expectativa é que Fred pense que está jogando contra o Flamengo e faça os gols que faz pelo Fluminense”. Um país com um jornalismo desse não pode ganhar, nem mesmo no futebol. 

TIAGO SILVA

O capitão fez falta e a esta ausência devemos aí, pelo menos, uns três gols. Agora, um sujeito com um cartão amarelo, capitão de um time, interrompe o tiro de meta de um goleiro para retardar alguns segundos de uma jogada. Daí ganha o segundo cartão e fica fora do próximo jogo, decisivo. Esse cara faz falta mesmo?

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Que a Copa me seja leve



Obras do acaso: em 2010 eu assisti a abertura do “Mundialll” (é assim que hablam aqui) em terras de Espanha. Logo a Copa, às quais compartilhei todas com “mi querido viejo”. Papai se foi naqueles idos de junho de 2010, a maior referência da minha vida. No dia do jogo contra Portugal, fui à Casa do Brasil em Madrid, lugar de encontro e celebração de brasileiros e, ademais, onde dava aulas minha querida amiga Acácia Rios, jornalista e poetisa dos Ajus. Que coisa estranha: no dia em que Papai era enterrado em Itabaiana, eu via uma partida de futebol. Até hoje carrego – e creio que nunca mais me livrarei dessa culpa – a dor de estar numa festa no dia que eu perdia meu chão, meu velhinho querido. Lembro que, naquele 24 de junho, dia de São João (João Correia?), essa dúvida me torturou como poucas vezes mais na vida: se eu ficasse no guarnicho em que morava, um quarto em um apartamento triste e silencioso, correria o risco de morder a isca do diabo.
Fui ao jogo, na Casa do Brasil, a coisa mais estranha do mundo. Um cantinho (canto grande!) brasileiro em Madrid festejando a pátria de chuteiras, como era de se esperar. Eu, com meu imensurável drama, estranhava tudo.

Mundiallll 2014

Dou graças ao nosso senhor do acaso que tudo aquilo passou sem seqüelas. Mas as coincidências existem para intrigar-nos a todos. 12 de junho de 2014, hoje, este servo das senhoras e dos senhores degustava umas pequenas férias justamente na mesma cidade em que assisti o último “Mundialll”. Ainda no começo da semana me lembrei do calor brasileiro na Casa, quatro anos atrás. Aqui instalado por sete dias, botei no Google e logo encontrei: jogos do Brasil na Casa do Brasil com isso e aquilo, patatis e patatás, Praianinha pra comemorar. A viagem de metrô foi-se colorindo de verde-amarelo à medida em que os trajetos confluíam para a estação de Moncloa. Brazucas saúdam-se nos corredores do “El Metro” e na longa avenida que leva à Casa. Camisas amarelas da Canarinha e vozes diferenciadas, surpreendentemente diferenciadas, todas convergindo para a abertura do “Mundialll” em Brasssilll.
É impressionante o sentido de identidade conferido pelo futebol. No caminho do metrô sou saudado por torcedores canarinhos igualmente fardados. Botam a mão no peito e, de longe, fazem o signo do coração. Brasil, zil, zil...

Moncloa está perto de “minha casa” aqui (estou sozinho num confortável apê no badalado bairro da Malasaña, onde moraram duas celebridades caras aos nossos olhos: o cineasta Pedro Almodóvar e o publicitário/jornalista Carlos Cauê). O dono, meu amigo e professor da UC-3, Luis Albornoz, viajou com a namorada e deixou esse latifúndio para yo e mis malos pensamientos.
Quando vivi aqui, costumava ir a Moncloa, além da temporada pebolística citada acima, para refrescantes banhos na piscina da Universidade Complutense, onde o top less era diário e o naturismo, as xanas em pêlos ao vivo, no dia consagrado à função. Assim, Moncloa me soa distinto e feliz.

Só uma bola me consola

Se fazer o caminho de volta já era reconfortante, imagine constatando essa identidade nossa a partir da Canarinha! Na Casa do Brasil, uma profusão de idiomas, todos eles levados ali por alguma razão, senão pela constatação de que festa de brasileiros é matéria rara e da melhor qualidade. Eu, chorão comovido, não agüento o hino desde tão longe. Me toma uma sensação de orgulho, mesmo que tudo. Ali somos, pra repetir o cansado bordão rodriguiano, a pátria de chuteiras.
Na volta, mais que uma dezena me acena, faz piadinhas, pergunta o placar. No metrô, brasileiras lindas paulistanas puxam conversa, afinal, estamos todos em festa. 
Em Madrid, havia uma celebração da juventude chamada de “botellón”, que queria dizer um festaço em público, geralmente na Plaza de España, onde centenas de jovens afetados pela crise, filhos de pais afetados pela crise, se reuniam para hablar, ouvir música e beber sem os custos dos bares da balada. Porre a preço de custo. Pelo que vi na volta para a estação Bilbao, o botellón foi transferido para dentro do metrô. As meninas chapadinhas, mais fogosas do que nós, conhecidos fogosos. Umas lindinhas tiram uma chinfra comigo, por causa da Canarinha, mas misturam tudo: falam em México, doidices e non senses. E logo desaparecem na calle Princesa, meu território sagrado do cinema.  Em 2010,  eu tava na Gran Via quando a Roja chegou da África do sul, campeona, nos impondo goela a baixo, e a mim em particular, naquela hora morador do mesmo teto dos heróis. Agora, a mim me resta ir pra casa, lavar o uniforme e confiar na baixa umidade madrileña para amanhã, más temprano que tarde, vestir a Canarinha sequinha e cheirando à vitória. Vocês vão ter que me engolir, madrileños!
 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Mais doses de Marcelo Mirisola, em “A volta do filho Morto”. A Santa Catarina, paraíso idílico dos mortais comuns, aparece assim para ele:



“Eu havia recém-chegado da estação Trianon-Masp e as barbies de Santa Catarina ainda me deslumbravam, a mania do ‘Paraíso’. O gado de corte deve achar aquilo lá, o pasto e o pôr-do-sol nas pradarias, ‘um paraíso’. É isso aí. Um lugar espremido entre o épico que é o Rio Grande do Sul e as esquisitices do Dalton Trevisan, em Curitiba. Vera Fischer é mulata do morro do Alemão. Um lugar que exporta barbies pros puteiros de luxo de São Paulo. Uma população bovina e trabalhadora e uns bobalhões tatuados. Surfistas, místicos franqueados pela Apae e estabelecidos com CGC, guia de recolhimento do Darf e IPTUs atrasados, granoleiros e caipiras em geral, gente branquela”.

“Múúúúúúú, gado. Um careca sinistro governador e a mulher dele, a fanhosa Chanel, prefeita da capital reeleita no primeiro turno. O Paraíso – só se for... – dos pilares de gesso ‘estilo Barbie boqueteando Julio César’ e dos neons triunfais nos solares do ‘Residencial Vovó Olga Favaretto’ e afins, paisagens de topetinho. O inferno (quer dizer, o paraíso) dos bailes de debutantes e dos colunistas sociais semi-analfabetos dos jornais de bairro, com direito ao ‘Danúbio Azul’ e muito laquê nas mães e as filhas cafungando pó, chupando pica e dando o rabo. Igualzinho ‘na televisão’. Uma coisa só. Qualquer lugar me servia em 1990. Onde o Judas perdeu as botas ou no inferno – agora sim, tamanha a carência e o desespero em que eu subia e descia as escadas rolantes da estação São Joaquim do metrô, em São Paulo. Do jeito que eu tava, seco e sem nunca ter fudido uma buceta de graça, qualquer lugar me faria feliz. O inferno, por que não este lugar?