segunda-feira, 20 de junho de 2011

Biutiful não é beatiful

Vi “Biufitul”, o belo filme de Alejandro González Iñárritu, com o galã da hora do cinema mundial, Javier Bardem. Chamo a película de bela pela poesia que carrega em sua imensa tristeza, mas a história nada tem de bonita. Ao contrário, mostra uma Europa que identifiquei aqui no blog, sombria e ameaçadora, com seus fantasmas desenterrados apontando nas esquinas. O desespero de seu protagonista, Uxbal (Bardem), numa Catalunha saturada de imigrantes, que exploram ilegais. Senegaleses como os que vemos em todas as praças da Espanha, vendendo CDs piratas e correndo da polícia o tempo inteiro. Chineses predadores que vão ganhando o comércio do mundo na tora, sob exploração brutal.
No meio de tudo isso, um herói bandido se beneficia com a escravidão, mas compensa sua sina com pequenos gestos grandiosos. E paga com seu próprio calvário, um câncer que vai lhe devorando aos poucos. A melancolia do filme é a mesma que perpassa a vida de milhões de imigrantes da África e do leste europeu, além dos nossos latinoamericanos, que vagam pela Europa na ilusão de bons empregos. Com a crise naquele continente, não os empregos desaparecem, como reacende as velhas feridas, como o preconceito, a xenofobia e outros males que incendiaram a Europa de ódio. Tudo tão longe e tão perto, se observarmos que meio século é quase ontem.
O bom do filme, pois, é o alerta para uma gente branca e proprietária, que passeia seu glamour em cima dos escombros de uma civilização em decadência. Como nas questões do clima, da política, economia e do intrincado xadrez das relações sociais no velho mundo, não custa nada avisar, mesmo porque os fantasmas estão , semi-enterrados e dispostos a retomar seu desfile de horrores