Vi “Biufitul”, o belo filme de Alejandro González Iñárritu, com o galã da hora do cinema mundial, Javier Bardem. Chamo a película de bela pela poesia que carrega em sua imensa tristeza , mas a história nada tem de bonita . Ao contrário , mostra uma Europa que identifiquei aqui no blog, sombria e ameaçadora, com seus fantasmas desenterrados apontando nas esquinas . O desespero de seu protagonista , Uxbal (Bardem), numa Catalunha saturada de imigrantes , que exploram ilegais . Senegaleses como os que vemos em todas as praças da Espanha, vendendo CDs piratas e correndo da polícia o tempo inteiro . Chineses predadores que vão ganhando o comércio do mundo na tora , sob exploração brutal .
No meio de tudo isso , um herói bandido se beneficia com a escravidão , mas compensa sua sina com pequenos gestos grandiosos . E paga com seu próprio calvário , um câncer que vai lhe devorando aos poucos . A melancolia do filme é a mesma que perpassa a vida de milhões de imigrantes da África e do leste europeu , além dos nossos latinoamericanos, que vagam pela Europa na ilusão de bons empregos . Com a crise naquele continente , não só os empregos desaparecem, como reacende as velhas feridas , como o preconceito , a xenofobia e outros males que já incendiaram a Europa de ódio . Tudo tão longe e tão perto , se observarmos que meio século é quase ontem .
O bom do filme , pois , é o alerta para uma gente branca e proprietária , que passeia seu glamour em cima dos escombros de uma civilização em decadência . Como nas questões do clima , da política , economia e do intrincado xadrez das relações sociais no velho mundo , não custa nada avisar , mesmo porque os fantasmas estão aí , semi-enterrados e dispostos a retomar seu desfile de horrores .