quinta-feira, 21 de março de 2013

O Ministro Joaquim Barbosa


Artigo do advogado Amadeu Garrido


O MINISTRO JOAQUIM BARBOSA 
* Amadeu Garrido

Não faz parte da análise política e, especialmente, da política judiciária, examinar as características pessoais de seus agentes. O que importa é ter em mira seus atos, sob a ótica da axiologia e do interesse público. 
No entanto, o princípio, como todas as regras, pressupõem inevitáveis excessões. É o caso do Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Joaquim Barbosa. Originário do Ministério Público Federal, onde militou por pouco tempo, teve a felicidade, em geral extremada de seus irmãos afrodescendentes, de adornar os conhecimentos jurídicos adquiridos na Universidade de Brasília, nos Estados Unidos e na Europa, aperfeiçoamento possível graças à sua inegável inteligência, marcada, sobretudo, pela objetividade. 
Conquistou uma cadeira no Supremo Tribunal Federal graças a uma visão enviesada do então Presidente da República, no interior de uma sistema nada democrático de escolha dos Ministros de nossa Suprema Corte. Considerava-se imperioso escolher um negro, depois da primeira mulher, Ellen Gracie. No seio da comunidade, conquistou a primeira posição aquele que era forrado de erudição, ficando evidenciado à nação que nem todos os negros são carecedores desse atributo. 
No entanto, Joaquim nunca manifestara solidariedade a seus pares ou se engajara em atividades políticas. Preferiu a via misógina do crescimento pessoal, em que, sem nenhuma dúvida, saiu-se vencedor. Num país de profunda injustiça social, sobretudo em relação aos negros e pobres, optou pela acusação. A defesa dos que se desviam ainda que um milímetro das malhas da lei, seja por  justificados motivos sociais, nunca foi seu forte. 
No STF, sempre deixando público seu mal de coluna (ainda que tenha sido pilhado por um jornalista "inconveniente" saboreando, relaxadamente, com um amigo, uma estupidamente gelada), foi o único Ministro que jamais recebeu advogados em seu gabinete, que lá se dirigem para expor razões, não para ousar corromper e sair algemados. Os relacionamentos descortezes com seus pares também demonstraram que não é um homem vocacionado ao trabalho respeitoso num colegiado judiciário. 
Agora, reiteradamente coloca sob suspeição toda a magistratura. Insatisfeito com uma primeira increpação, que ensejou resistência de todas as entidades nacionais de juízes, volta à carga, falando em conluio entre magistrados e advogados. Pela razão de serem próximos, amigos, antigos colegas de faculdade etc. Foi enfrentado por seu colega do CNJ, Tourinho Neto: "Vossa Excelência é duro como o diabo", disse o antigo juiz ao nosso Torquemada. 
Longe, com o acima exposto, de pretendermos dizer que as condenações do Mensalão foram injustas. Nesse episódio, Joaquim Barbosa foi irrepreensível. É preciso, porém, que o povo entenda que, simplesmente, um membro do Judiciário cumpriu seu dever e, por isso, não merece o endeusamento que lhe rendeu uma população combalida pela corrupção crônica. 
Não nos cabe aconselhar ninguém e tampouco o titular desses cargos figurantes no cume do Estado brasileiro. Porém, convém lembrar a matéria de Sumathi Reddy, do "Wall Street Journal", a respeito do riso e com menção ao "sorriso de Duchêne", que "gera uma emoção psicológica positiva e mudança no cérebro", como disse Paul Eknem, professor emérito de psicologia da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Um único (o primeiro) já poderia ser benjazejo pessoal e politicamente ao Ministro Joaquim.

* Amadeu Garrido é advogado, membro da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História

segunda-feira, 11 de março de 2013

Um sujeito que o vulgo mal educado, cansado de tanta calhordice, trata-o por "Merdal".


Do blog Indignem-se, de Paulo Nogueira:


Devemos entender que a violência dá as costas à esperança. Devemos preferir a esperança, a esperança da não violência. Este é o caminho que se deve aprender a trilhar.
Stéphane Hessel, autor de “Indignai-vos”.
A epígrafe acima fala sozinha. E reflete a alma do Diário.
Indignação, sim. Violência, não. Luther King é uma eterna inspiração.
Isto posto, algumas palavras sobre um tema que despertou apaixonada polêmica nas redes sociais neste final de semana: o esculacho dado por um grupo de manifestantes no colunista Merval Pereira.
Em sua coluna no Globo, Merval afirmou que teve seu “dia de Yoani”. Foi reconhecido, xingado e hostilizado, segundo seu relato. Chutaram seu carro, afirmou.
A versão dramática foi colocada em dúvida por alguns. “Merval teve seu atentado da bolinha de papel”, tuitou alguém.
A referência é ao clássico episódio em que Serra terminou num aparelho de ressonância magnética, na campanha de 2010, depois de levar uma bolinha de papel na testa piramidal.
Alguém desafiou Merval a provar, com uma vistoria, que seu carro foi danificado.
Tudo isso colocado, e sem que eu de Londres possa elucidar a real dimensão do episódio, o que me impressiona é o seguinte: Merval imaginava que era admirado fora do exíguo circulo conservador em que milita?
Foi o que me pareceu, pelo tom de seu artigo. Merval me lembrou o diretor da Bastilha que estranhou que a multidão não estivesse ali para festejá-lo naquele 14 de Julho de 1789.
A mesma coisa já me chamara a atenção no caso Yoani. Os organizadores da fala em que Yoani foi hostilizada foram claramente surpreendidos pelas vaias entusiasmadas a ela.
Merecidas ou não, e cada um tem sua opinião, as vaias eram absolutamente previsíveis. Yoani virou, no Brasil, ídolo do chamado 1%. Exatamente por isso, será esculachada pelo povo.
A defesa obstinada que Merval faz de causas antipopulares dá a ele uma série de coisas: coluna no Globo, microfone na CBN e na Globonews e, por isso, bons cachês para palestras.
Mas admiração, carinho, afeto por parte da chamada voz rouca das ruas, evidentemente, não.
Merval e congêneres são amplamente detestados, e é surpreendente que não tenham noção disso. Parecem viver num universo paralelo.
Em seu “dia de Yoani” Merval teve, na verdade, um choque de realidade. Está – graças a Deus – inteiro, intacto para fazer as reflexões que o episódio merece.
O mais importante é ele aceitar o fato de que não é, definitivamente, um campeão de popularidade.
Leia mais: Indignem-se

terça-feira, 5 de março de 2013

O Papa (quase) ficou pop



“Águas agitadas e ventos fortes”, disse o velho Ratzinger na semana passada. Vixe Maria! O papado é mais que um senado, é o céu na terra, é o paraíso sem precisar morrer, porque é o dono da batina quem negocia diretamente com Ele, o Poderoso. Para um papa de direita, ideólogo de João Paulo II, a dupla que desmontou o mundo bipolar, pulverizou a utopia socialista e pôs no lugar o mundo cão, é assustador o que estamos vendo. Imaginar que Bento XVI se tornaria o lado bom da história é uma das raras surpresas do trôpego carrossel da História. Significa ainda que o silêncio da burguesia eclesiástica das grandes e pequenas paróquias agora é fronteira entre o bem e o mal, o crime versus a tentativa de salvação da agonizante Santa Madre S/A. Business contra o business mafioso .
Um nadinha de um cargo público já ilude os bobos com a vida fácil, imagine ser O Papa, alguém que é como um time que entra em campo só pra fazer gol, sendo proibido ultrapassar sua grande área. Mas Ratzinger é alemão e esses alemães são tão esquisitos que o esperto chefe da Iglesia pode até acreditar nas suas bravatas. A perecer na névoa dos dinheiros sujos, da pedofilia quase oficial e outras iniqüidades agregadas, preferiu o politicamente correto, o poder paralelo e a celebridade midiática, com a Santa Sé no bolso de suas saias.
Dezessete séculos de domínio começam a ruir, sem que, com isso, o mundo melhore um milímetro. Caetano cantava: substituir o novo pelo imediatamente mais novo. A História, com sua descontinuidade, acena: a barbárie, por outras selvagerias emergentes. É o mundo: E pur si muove.