sexta-feira, 8 de abril de 2011

A barbárie veio para ficar

Passei o dia vendo os jornais da TV fazendo variações sobre o mesmo tema. Me espanta as reações de estupefação da maioria das pessoas com o massacre de Realengo, como se ele fosse a coisa mais irracional num mundo em harmonia. Falta razão e sobra desordem neste mundo de pernas pro ar. O governador do Rio, para cumprir sua condição de estúpido, desfere uma lista de impropérios contra o assassino, como se assim, nesta simplicidade superficial, vingasse a morte dos pequenos.

O problema está justamente no mundo que nós, os moradores, viramos de ponta cabeça. Como nos espantar com a irracionalidade, se plantamos isso no dia a dia, em todas as instâncias da vida moderna? Anormal seria esperar que a máquina funcionasse sem emperrar. Os mesmos canais que se ocupam do assunto full time, deveriam começar a discutir o assunto fazendo o dever de casa, questionando, por exemplo, o papel da publicidade na moldagem de uma sociedade consumista, onde a afirmação das identidades passa pelo ter e estar em tudo e a todo instante.

Um mundo de identidades fragmentadas, que valoriza a banalização em programas como o Big Brother, cuja finalidade é a glamourização do ordinário. Um mundo destes resulta em conflitos existenciais na formação das personalidades, na difícil relação com o anonimato e, por fim, em reações intempestivas. Achar que esses casos são irrupções contidas na loucura individual de desajustados, não ajuda a enfrentar o problema. O alerta foi dado e deve ser considerado. Como diria Caetano, alguma coisa está fora da ordem.

Um fato que bem mostra o nível de intolerância em que estamos mergulhados: ontem uma congregação de muçulmanos no país emitiu nota explicando que o atirador não tinha nenhum vínculo com a religião. Isto porque, ao demonstrar, como disse a imprensa, “traços fundamentalistas” na carta que deixou, o suicida poderia ter ligações com o islamismo. Compreenderam a sutileza, né? Fundamentalista, no entender dos coleguinhas da imprensa, rima com muçulmano.
Fundamentalistas mesmo são os que professam um jornalismo desses: intolerante, racista, preconceituoso, beligerante e irresponsável.   

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