quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Jornalismo lá e cá

Terça, 15/02, no Observatório de Imprensa, Alberto Dines entrevista o diretor do El País, principal jornal espanhol, do grupo Prisa, o equivalente no Brasil aos grupos Folha ou Globo. Como empresa, pode ter semelhanças, mas a matéria prima é feita de outra moral. um exemplo: existe um conselho de redação que, quando discorda de alguma posição editorial da publicação, tem, por direito assegurado, um espaço na mesma edição para manifestar a discordância. Isso é feito com regrasevidentemente, mas funciona. Mas o diretor comemora: "na minha gestão, esse expediente não foi usado por mais de duas ou três vezes".
A Folha de S. Paulo tem um ombudsman que, teoricamente, faria as vezes de um conselho de redação. Mas quer ver a eficácia? Escreva ao tal e comente alguma coisa. Suas chances de ser publicado ou mesmo respondido pelo ouvidorindependentesão quase nulas. Como seria de esperar, no Brasil avacalharam a idéia de democratizar uma redação de jornal.

Aqui

Um amigo, leitor e crítico da mídia local, comenta comigo: aqui, se transferissem dos patrões para os empregados o controle do jornal, ia piorar mais. Corei de vergonha.

O modus operandi

Aqui temos uma realidade cada dia pior, com os jornalistas proletarizados por um piso que não soma dois salários mínimos, enquanto os “editores políticos” se comportam como donos de páginas, procedendo a um escandaloso loteamento do que seria o noticiário político do periódico. Quer a prova do crime? Veja a diferença de patrimônio de uns e outros. Dos assalariados e dependentes das lutas do sindicato e dos novos ricos que traficam notinhas nas páginas e cadernos dos diários.
Um velho publicitário conhecedor desse “ramo”, me garante: tem até tabela. Para notinhas, comentários, entrevistas, fotos etc. O Sindijor deveria incluir na sua pauta, além da luta salarial, uma rigorosa investigação sobre essa bandalheira. 

2 comentários:

Raquel Passos disse...

Ao ver a realidade apontada por você do El País, percebo claramente como aqui não temos essa liberdade em manifesar um outro posicionamento que foge ao da empresa. Aliás, o que tenho de conhecimento sobre o jornal diário e de como se formam as equipes nele inseridas, é nítido que essa façanha é desapontada. Não vejo profissionais engajados a permanecer com seu ponto de vista que deveria se esclarecedor e não sócio do jornal. É de desapontar quem vive essa realidade de perto...

(obrigada pelo texto. ótima reflexão, caro)

Zenóbio Felix de Sousa Melo disse...

Caro Luciano: concordo integralmente com o seu artigo. O jornalismo politico local está quase totalmente mercantilizado. Colunistas-empresários mandam no noticiário politico da terra e ainda são tidos como "grandes jornalistas". O tabelamento dos preços das notícias e dos espaços é uma falta de vergonha sem precedentes. Tem um velho empresário da notícia que está sendo chamado de "Edvan Amorim da imprensa politica". O empresário Valter Franco declarou recentemente em sua TV Atalaia "que em Sergipe a imprensa passou do marrom e já está no preto". Tenho pena do nosso povo por ter perdido o direito de ser bem informado pra esses calhordas. Prefiro viver fora disso e sem peso na consciência. Saudações Democráticas - Zenóbio Melo.