quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei


Vou dizer: nunca mais tinha visto um filme tão bom quanto “O discurso do Rei”. Meus colegas da comunicação, sobretudo a turma da semiótica, têm ali um prato cheio para múltiplas análises, desde os campos da política, do marketing, da psicologia, da medicina, enfim, das coisas que inauguram a era moderna, dominada pelas ações midiáticas. Esse negócio de superprodução é uma bobagem, um clichê que nos remete às grandes bilheterias de Hollywood, mas é preciso dizer, em relação ao “Discurso...”, que é uma luxuosa composição de tudo que conta no filme: a ambientação do início do século XX, os cenários britânicos, a iluminação primorosa em estúdio ou nas externas, os diálogos e roteiro consistentes e, por fim, uma direção de gênio.
O diretor aborda com maestria a vida da nobreza inglesa, a frieza das relações mesmo entre as famílias. “Nós somos uma firma, não uma família”, diz, a certa altura, o ainda príncipe Albert ao rei George V, seu pai. Por ocasião da morte do pai, Albert, ainda o segundo na sucessão, tenta um abraço emocionado na mãe, que, formal, não o acolhe, com cara de quem não está entendendo. Era um tipo demasiado humano para os padrões da aristocracia inglesa, para o bem e para o mal, embora esta última facetaseu anti-semitismonão seja matéria do filme, sequer sugerida. Mas a humanização de ( tornado Rei) George VI é justamente a matéria-prima do diretor Tom Hooper, que não desnuda iniqüidades entre os nobres, como entre atores importantes, como a Igreja e seus arcebispos malandrecos, com suas ardilezas, sempre em nome de Deus, claro.
Hooper consegue seu objetivo ao contar o drama interior vivido por um Rei gago, atormentado por esta condição, ainda mais quando a trama da História o coloca num púlpito da altura do trono britânico. A relação tempestuosa com seu terapeuta da fala, Lionel Logue, e a ação cuidadosa deste “falso doutor”, revela com riqueza o teatro das operações midiáticas no século tido como eminentemente da propaganda, aqui inaugurando a era do rádio. A história do homem de mídia por trás do político, tão em moda quanto atual, ganha tons de emoção até mesmo num filme inglês, com tudo que esta categoria representa. Vale a pena ver “n” vezes

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