terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tapas madrileñas (2)

Um show de reggae no inferno



Fui ver umconcerto de reggae”, conforme prometido e anunciado, com o maior nome do reggae jamaicano (para mim é o insuperável Gregory Isaacs, a quem conheci nos anos 90, em São Luís, mas essa é outra história). Chegamos em cima da hora e, quando entramos, a apresentação rolava. Naquela noite, 28 de julho, fazia uns 35 graus em Madrid, mas o choque térmico foi espantoso: dentro do “espaço” estava pelos 45 ou 50 graus. Espaço é modo de dizer, porque aquilo é uma garagem subterrânea, fechada, sem outra saída senão a mesma escada por onde descemos todos, os quase mil que agitavam e dançavam e bebiam e fumavam e gritavam ao mesmo tempo.
Mas que diabos eu vim fazer nesta sucursal do inferno em Madrid?, pensei com meus famigerados botões, mas deixei valer minha lógica de guerra: quem está no fogo (e aqui quase literalmente), é pra se queimar. As centenas de pessoas se comprimiam num guarnicho menor que o saudoso Cine Popular, de Itabaiana, templo dos filmes nacionaispornôs” dos anos 70 (de pornô, se é quepra dizer, tinham uns peitinhos aqui e ali e umas xoxotas devidamente encobertas pela farta plumagem, tão típica da época. Mas essa também é história para outro dia...).
Foi que meus amigos Fernando, jornalista e regueiro 100% envolvido com a causa, e Sandra, idem, usaram suas influências para passarmos ao espaço Vip. Calma quem pensou nas festas fabianísticas de Aracaju, com ar-con, bebida degrátis e mulé xerosa por perto. Naaadaaa. O cantinho Vip era tão ou mais cheio do que a geral da patuléia. Sem falar que não tinha como sair para comprar bebida (seria o mesmo trabalho, pra efeito de comparação, que atravessar o Forró Caju em noite de São João para comprar uma cerveja do outro lado da multidão). Ali ficamos, bailando o melhor reggae da Jamaica e derramando baldes de suor continuamente. Rios de suor corriam pelo rego da bunda e desciam até as meias (pois é, eu levei a sério a idéia de umconcerto” e fui de tênis e meia). Decididamente, isto precisava de um basta. Pois deu.
Na terceira ou quarta música, nosso astro pop internacional, negão forte como um jacarandá, mas na flor de suas 65 velinhas, não agüentou a sauna madrilena e foi correndo pro hotel. Na saída, encontramos o motorista que havia conduzido o pobre astro desidratado e ficamos sabendo de sua igual indignação. Da parte dos (dês)organizadores, no entanto, nem um aviso, um boato que fosse, explicando os motivos do concerto acabar antes da hora. O ar-con havia quebrado, justo naquela noite, embora eles não comunicassem a nenhum dos que entravam. Calor e superlotação, um barril de pólvora pronto para, quiçá, uma tragédia maior. Nem os forrós do meu Mosqueiro exibem tanto desrespeito com o consumidor. Menos mal. Fomos encher a cara nos bares da Gran Via, , sim, lugar de gente civilizada. Pois!

Luciano Correia
   

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