sexta-feira, 18 de junho de 2010

A morte do velho jornalismo




Acompanhei a discussão que se seguiu em Sergipe, por ocasião da última visita do presidente Lula, pela escolha de uma determinada emissora de rádio para uma entrevista exclusiva. Não precisa dizer que os excluídos babaram de raiva e inveja, mas, até aí, é briga de branco. O melhor foi o quase debate que estabeleceu-se após, principalmente no Twitter, onde, vez ou outra, dou uma espiada para ver o que acontece de novo (e vou dizer: nada acontece de novo nem mesmo ali). A partir de uma discussão sobre os critérios que teriam sido adotados, falou-se primeiramente de rádio, com seus impagáveis Ratos de Rádio (uma criação genuinamente sergipana. Ahahahah, impagável aqui é só um adjetivo, mas, vá ver...). Depois ensaiou-se uma reflexão sobre a imprensa atual que praticamos.

O pavor de uns e outros, na verdade, é com o crescente desaparecimento dessas instituições tão importantes à vida social, até a virada do ano 2000. Para o bem ou para o mal, o jornalismo clássico, como conhecemos, conquista alcançada juntamente com os ideais iluministas que transformaram a sociedade na maioria dos países, este vive uma perigosa agonia. A multiplicação de vozes, trazida inicialmente pela Internet e agora pela consolidação da convergência digital, pulveriza os centros emissoras, que deixam de ser centro e passam a dividir a emissão de informação com vozes plurais, agora distribuídas globalmente.
Sou de uma época em que a pequena Aracaju contava quatro diários e o bravo alternativo Folha da Praia, mais uns e outros alternativos que pingavam aqui e acolá. O rádio, monopolizado em três ou quatro vozes que, afinal, tinham donos, que eram os proprietários das emissoras. Na televisão, nem se fala: o duopólio de dois canais comerciais locais e a problemática TV estatal (hoje, felizmente, vivendo dias bem melhores). Dizíamos, no sindicato, nós que lutávamos por uma comunicação democrática: é preciso quebrar essa panelinha. E é éramos muitos: Milton Alves, Rita Oliveira, Marcos Cardoso, Gilvan Manoel, o saudoso José Araújo, Valdomiro Júnior e outros tantos.
Lembro quando Ivan Valença, acreditando numa imprensa plural, apostou fichas numa gráfica que imprimia duas dezenas de pequenos títulos. Fiquei fascinado com uma IBM que resolvia os antigos problemas da composição, que fazia da diagramação do jornal, literalmente, um trabalho artesanal. Para aprontar a edição semanal da Folha da Praia, Amaral gastava as tardes de quinta e sexta na velha redação da São Cristóvão, em cima da Transbrasil (eitha, quanta coisa passada. Estoy me poniendo viejo...).
O computador caseiro (PC), primeiramente, deu o alerta para a quebra da tal panelinha. Depois a Internet pulverizou o velho chão. Não imaginávamos (ou imaginamos pouco) que a dispersão dos emissores poderia afetar também a forma, a estrada do velho e bom jornalismo, que agora periga, como diz Júlio Ottoboni (Observatório de Imprensa, 08/06/2010), a notícia virar calhau. Para quem não é do ramo, calhau são aquelas pequenas inserções institucionais dos canais de TV (ou rádio), dedicadas a pequenas mensagens.
Que o mundo vire de ponta cabeça (afinal, era tudo o que pretendíamos), mas, se é possível pensar isto, que seja para o bem. 

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Três hotéis



Decidido a buscar um hotel no centro, acabei mudando de idéia. Aceitei a sugestão de um baiano e fui parar um pouco ao norte, próximo à estação Begoña. Não tinha internet nem wi fi (aqui se diz “uí fí” – gosto desse jeito dos espanhóis nacionalizarem palavras em inglês). Mas estava tão detonado, depois de uma noite inteira na inflexível poltrona da TAP, que falei para meus pés: daqui não saio mais. Mais tarde, fui dar um bordejo na Porta do Sol e cercanias, comprar frutas para o jantar. Sem dormir um minuto na viagem, a noite do domingo me deixou descansar um poucovocês não têm idéia do valor de uma noite bem dormida, para um insone.




Na segunda-feira fui parar no Hostal Alicante, pertinho da Porta e do “El Corte Inglés”, uma loja de departamento bacanuda, a Mesbla daqui. Foi o tal do relógio adiantado pra me pegar. Na véspera, um velho com cara de gerente puxou conversa comigo. Mas tava pouco interessado em ouvir. Falou do gigantismo do Brasil e disse que, por isso mesmo, não tem controle. E que a corrupção grassa. “Na Europa não tem disso”, disse o sacana. Eu dei por encerrado minha charla. Preconceito no primeiro dia, vovô? Esse Alicante, além do fascismo latente do vovô, cometeu uma fraude: disse que tinha wi fi (como é a pronúncia?), mas... nada. Tinha um pc numa sala, bem disputada. Fiz cara de apressado e uma morena linda, cara de nicaragüense, ficou toda hora dizendo: “ vai, chico, vai”. Ai morena.




O terceiro é onde escrevo essas mal tecladas linhas. Chama-se “El Pilar”, anuncia duas estrelas, que não sei se valem, mas para mim tá de bom tamanho. À tarde fui traçar um Donner kebabb, num simpático restaurante árabe (vixe, será que é árabe mesmo? Vamos pedir a palavra do professor Jorge Carvalho, cidadão do mundo. Não confunda árabe com turco, que vai ver onde a burca torce o rabo). Na TV passava um programa de clips de países árabes, uma espécie de Al Jazeera teen, a MTV do Oriente Médio. Puta programinha ruim. E eu achava que o pior programa de TV do mundo era o Pampa Show, do canal 4 de Porto Alegre. Na saída, com uma chuvinha safada de uns pingos grossos aqui e acolá, dei de cara com elas, as putas. Ai meu Deus, até aqui esses fantasmas atormentam a vida de um rapaz de família. Pelo menos tive o gosto de dizernão” a uma espanhola. Quer dizer, nunca se sabe de onde são essas periguetes... Vai que é uma parenta nossa...









Mozart Santos









Lembram do baiano atrás? Coisas desse mundo redondo e pequeno. No caminho do aeroporto para o centro fui pedir uma informação ao segurança do metrô. O cara atendeu, indicou e, na saída, tirou uma chinfra: “Aposto que é baiano”. Ano não, mas sergipano sim. Daí não demorou mais que 30 segundos até chegarmos no nome do jornalista Mozart Santos, superintendente da TV Sergipe nos anos 80, grande figura, cidadão do mundo, cosmopolita, homem de TV como poucos tivemos em Sergipe. Quando trabalhei com Mozart eu era diretor do Sindijor, grevista recorrente, mas nunca deixei de alimentar uma ponte de amizade com ele, boa conversa e bom copo. Pois não é que o rapaz, Renato Alonso, é sobrinho do nosso homem de TV! Foi o bastante para meia hora de conversa. Não fosse a indicação do apê das meninas, seguramente teria ido ocupar uma habitación na casa do primo Renato. Fica pra outra, rapá.