sábado, 2 de julho de 2011

Vá para a História, Itamar

Minha geração de esquerda, que fundou o PT e disputou com o velho Partidão (PCB) e PC do B a hegemonia das posições de vanguarda, salvo raras vozes estridentes, sempre cultivou um respeito pelos democratas alojados no guarda-chuva do saudoso MDB. O partido de oposição à ditadura, criado para fazer um previsível e comedido dueto com a governista Arena, ao mesmo tempo que legitimou o regime pós-64, alimentou as sementes das revoltas e reformas que, no futuro, mudariam o país. Dessa quadra consta o movimento Travessia, formado por parlamentares de esquerda que trabalharam o tempo inteiro pela abertura política e redemocratização do país.
A corrente Travessia, ou os chamados “Autênticos” do MDB, que a historiografia às vezes esquece, foi feita de gente do calibre de Marcos Freire, Fernando Lira, Cristina Tavares, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Jackson Barreto e... Itamar Franco, dentre outros. Essa turma impôs ao regime militar, em 1974, uma acachapante derrota, que em Sergipe representou a eleição de Gilvan Rocha para o senado contra as oligarquias plantadas há séculos no poder. Aqui, também deve ser registrada a heróica figura de José Carlos Teixeira, grande brasileiro de Itabaiana, filho de “seu” Oviêdo, que, junto com os irmãos Tarcício e Luís, da Norcon, ofereceram apoio político e material a tantos opositores banidos. Homens de coragem, que a História haverá de guardá-los na galeria do bem.
Itamar fez uma carreira de oposicionista, às vezes radical, ora destoando. Mas sem nunca deixar de ser íntegro e de cumprir, na presidência, um mandato surpreendentemente avançado, progressista, fincando as bases desta nação potência que se tornou possível depois do Plano Real. Que ninguém esqueça: todos, que gozamos do desenvolvimento econômico e da liberdade política no nosso país, devemos muito a Itamar. Sua morte, hoje de manhã, empobrece a melhor política, dos tempos em que esta era uma arte dos homens movidos pelo quase esquecido espírito público.   

Um comentário:

Rafael Galvão disse...

É engraçado que os anos FHC tenham quase apagado Itamar da História, uma espécie de parricídio político. Mas essa moça é caprichosa, e já começou a reservar os papéis justos a cada um deles. :)