domingo, 8 de junho de 2014

Literatices



Do escritor Ricardo Lísias, na apresentação de “O azul do filho morto”, de Marcelo Mirisola:

... Mirisola denuncia a banalidade da vida burguesa, o ridículo das questões familiares, o tédio do culto ao corpo e o patético – que aqui nunca será matéria de poesia – de todo tipo de relacionamento afetivo, muito bem simbolizado pela expressão preferida dos casaizinhos tontos e felizes: “né, morzão?”.

... Não é este, portanto, um livro que celebra a felicidade da classe média que, crescendo nos anos setenta, solidifica-se durante a década de oitenta, compra uma mesinha para o centro da sala, uma churrasqueira e coloca as crianças no carro para passear no final de semana prolongado no litoral. Na praia, o narrador de O azul do filho morto urina dentro de uma garrafa de cidra e, solitário como costumam ser os grandes leitores, recusa-se a participar da festa.

Agora, doses do filho morto, Mirisola:

- Oh, meu Deus. Se Deus existisse e tivesse o mínimo de talento e bom gosto, declinaria – antes do homem - do paraíso e, por conseguinte, dos efeitos especiais e de uma legião de santos desnecessária, beatos, filhos da puta e duplas sertanejas. O que é o Apocalipse senão um enredo mequetrefe do Ultraman sem o fecho ecler? Oh, Deus! Isso é coisa do homem, Igrejas, Sex Shops, o mal gosto intrínseco e os suvenires comprados em Aparecida do Norte. Tô de saco cheio dessa masmorra sadomasoquista, dos palpites do Gilberto Gil, deste “mix” de canalhice com chupação de pica e da porra da alminha brasileira atulhada de merda, pra mim, bastaria praticar o perdão do pai-nosso com uma boa dose de indignação, luxúria e senso crítico. Isso quer dizer, entre outras coisas, descartar a semiótica fascista do Décio Pignatari e os efeitos especiais em geral, deixar o diabo de lado. Que é outra falcatrua, aliás. O puto vive a se omitir em minhas preces, pragas e orações.

Vida de tatu filhadaputa. Em 1989, tive meu primeiro original recusado: Um pouco de Mozart e genitálias. Bem, azar de quem recusou. Para mim, os editores – com exceção do meu que está pagando uma merreca pr’eu escrever este livro são todos uns chupadores de pica, analfabetos. Cegos por opção, degenerados, mercenários e débeis mentais. Vale a mesma coisa pros jurados de concursos literários e pros poetas em geral. Odeio poetas.

Pior que poeta, só livro psicografado. Esse tal de Emmanuel é um espírito de porco, apenas não é mais conservador, tarado e mau caráter do que escritor de livro infantil (incluo aí os autores de auto-ajuda e policiais, enredo é coisa de criança). Os irmãos Gasparetto o recebem (ou gerenciam, o tal do Emmanuel) via anal – de quatro – bundinha virada pros céus. A mãe deles, dona Zíbia, é a cópia fiel da minha madrinha, vai na mesma cabeleireira. Fui batizado na Igreja do Calvário. Os exus e orixás, todavia, são mais honestos porque são deliberadamente analfabetos, não escrevem livros bem-intencionados. Sincretismo dá nisso.


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