Não gosto dessas posições apriorísticas de uma certa esquerda
superficial, ou, pior, do falso batalhão de democratas de última hora, como o
senhor Paulo Henrique Amorim, que, por conta de suas refregas com a Globo,
inventou um improvável PIG, o Partido da Imprensa Golpista. Não que o exercício
da imprensa, no Brasil, não seja muito pior do que os chavões brandidos pelo
sensacionalista apresentador da Record, mas quando as discussões já nascem
toscas, o resultado sai ainda pior.
Vejamos o caso das eleições na Venezuela. A imprensa brasileira,
sobretudo aquelas meninas bonitinhas da Globo News, trabalham duro há anos para
desconstruir a figura de Hugo Chavez e a herança política legada por ele. Um
detalhe (se é que isso é detalhe): governou por 14 anos, após ser eleito
democraticamente. Antes disso, tentou um golpe e pagou por isso, na forma que
as democracias cobram: cadeia. E o que querem mais as menininhas da Globo News?
Capar Hugo Chavez? Ou, como diz a música de Chico, jogar pedra na Geni?
Ontem o herdeiro principal do Chavismo, Nicolás Maduro, venceu a eleição
democraticamente. O derrotado é um molecote fascista, um Collor nascido com uns
20 anos de atraso nessa América Latina cansada de mauricinhos aventureiros.
Eleição é feita de regra: e Maduro venceu dentro da regra. Mas, por ter vencido
por uma margem surpreendentemente pequena (esperavam-se oito pontos de
diferença e esta não passou de dois pontos), o arremedo de estadista financiado
pelos venezuelanos de Miami rasgou a norma, pediu recontagem e assanhou a
imprensa golpista. É triste concordar com PH Amorim, mas é fato. Acuado – e
abatido pela vitória apertada – Maduro concordou com uma recontagem, que, ao
fim e ao cabo, confirmará sua vitória. Porque o sistema eleitoral da Venezuela
é tão confiável quanto o nosso (das poucas coisas confiáveis, lá e cá).
Enfim, é inacreditável que o analista-mor da Globo, aquele que o
populacho chama de Merdal Pereira, questionasse hoje cedo a “legitimidade” do
vencedor para governar. Estamos agora aguardando as soluções propostas pelos
herdeiros do dotô Roberto Marinho sobre o caso. Ou seja, o presidente ganhou,
mas ganhou por pouco na contagem do Merdal. Assim, na sua lógica caseira, ganha
mas não leva. Esta é a visão de democracia da Globo e do jornalismo periguete
da Globo News.
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