No Feice,
território livre da nova esfera pública mundial, alguém esculhamba o governador
gaúcho Tarso Genro e, ato contínuo, defende a Brigada Militar daquele estado,
precisamente os bombeiros. É difícil saber se são reações corporativas, as
mesmas que estão infestando a democracia brasileira, estado por estado,
inclusive o nosso, com policiais que não policiam, professores que não dão aula
e etc. Estamos ficando reféns de corporações que, ao pensarem só e somente
nelas, pensam que trabalham contra e minam os governos. Não sabem – ou sabem e
não estão nem aí, o que é mais provável – que, na verdade, estão sabotando é a
sociedade. Esta, desprotegida, insegura e enganada, paga altos impostos por
serviços ruins. Quem tem uma mínima condição, coloca os filhos nas escolas
privadas, onde estão muitos dos professores da rede pública. Neste caso, a
questão não é de qualidade, mas de compromisso.
Na tragédia
da boate Kiss, os bombeiros gaúchos, em vez da sabotagem contra um governo
eleito nas ruas, deviam cumprir com um mínimo de honestidade suas funções. (Fico
espantado como as corporações gostam de um golpezinho. Deve decorrer do fato de
que seus principais gurus foram curtidos no caldo da ditadura). O alvará da
boate Kiss dormitava há dois anos nas gavetas da briosa, engolfado num misto de
incompetência e desrespeito à cidadania. Como o setor privado no nosso país tem
uma atração fatal por burlar regras, a boate deu de ombros às exigências legais
e bombou até quanto pode, com suas espumas assassinas espreitando do alto uma
juventude que merecia destino melhor. Este é o Brasil que precisa ser
sepultado, em vez dos que sucumbiram em Santa Maria.
A indignação
dos outros com Renan Calheiros
Nossa classe
média vive disso: de pequenas dignidades, ou o que supõem ser o politicamente
correto. Fiquei enjoado (ou enojado?) com a multiplicidade de vozes que
simularam uma vergonha com a eleição de Renan Calheiros para o senado. Renan é
uma puta velha, mas não é invenção dele mesmo. É o Maluf do nosso tempo, aquilo
que os congressistas, nos seus convescotes entre bons uísques e melhores
mulheres chamam de “mal necessário”. Os bucaneiros federais têm razão, de algum
modo: ninguém neste país é melhor do que Renan Calheiros. Aliás, uma sociedade
que permite emergir Malufs, ACMs e outros que tais, não tem moral para achar
isso ou aquilo do ligeiro Renan.
Minha
perplexidade é quando esse falso moralismo chega no meu campo de trabalho, o
jornalismo. Não me refiro, evidentemente, àquelas raposas matreiras da Globo
News, a empresária Mirian Leitão e as menos estreladas, mas ao povinho aqui do
Feice. Amigos e amigas, alguns que assessoram deputados das Dnits, Dnocs, Dê
isso e d’aquilo da vida, simulam uma suposta decência, como se na solidão dos
seus quartos escuros eles não fossem muito piores do que o Renan. Ai que
fastio, que vontade de voltar ao velho jornalismo combativo! Vamos começar a
puxar máscaras à direita e à esquerda, porque vagabundagem tem limite. Este é o
Brasil que precisa ser passado a limpo.
3 comentários:
Nada como ler um bom texto! Ainda mais, de um contemporâneo da EBC. Salve, Luciano! Abs, Mery Bahia.
Obrigado, Mery. Bom saber de vc!
Muito bem, Luciano! Compartilho com suas opiniões (apenas não compartilho esse texto no face, como gostaria, porque tenho preguiça da polêmica que já sou obrigado a enfrentar por causa de minhas opiniões). Vou mandar pra Cristina ler.
Cid Queiroz
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