quarta-feira, 18 de maio de 2011

Dona Helena ressuscita o Reisado do Mosqueiro

No último sábado aconteceu, na Orla Por do Sol do Mosqueiro, a apresentação do Reisado do Mosqueiro, grupo folclórico que preserva uma das mais belas e tradicionais raízes culturais de nosso estado. Dona Helena merece um capítulo à parte, pela história de resistência para manter funcionando o grupo que remontadécadas, de pais para filhos. Não são apenas as poderosas atrações da indústria cultural que ameaçam as manifestações tradicionais, mas também os pequenos grupos de bairros, manifestações emergentes de uma cultura suburbana em que predominam ritmos como o arrocha, pagode e outros, todos eles legítimos, a não ser pelo fato de que ocupam os espaços sem deixar sobras para a diferença. Que o digam os milhares de carros de som que infernizam nossa vida cotidiana, com a complacência da polícia e do Ministério Público.
Num mundo onde a publicidade e a mídia martelam o tempo inteiro seus conceitos de “ser jovem e moderno”, de uma estética concebida nos laboratórios do consumo (laboratórios de cosmética, inclusive e principalmente), insistir num modesto reisado é quase uma loucura.
Mas, contra a corrente das modas e, mais recentemente, contra um câncer que quase a abateu, dona Helena é uma heroína da resistência cultural. Mantém seu pequeno grupo de crianças e adolescentes com os minguados recursos que arrecada nas festas ocasionais que realiza na própria casa.
Este jornalista que vos fala, tão pobre quanto dona Helena, desde muito é um voluntário na cruzada pela manutenção da diversidade cultural do Mosqueiro, bairro-povoado onde vivoquase 17 anos. Em 2001 gravei um pequeno documentário sobre o reisado e agora, na minha volta para casa, depois de cinco anos, retomei minha modesta contribuição. Esta, a propósito, consiste basicamente nisto: fazer a ponte com o poder público em questões prosaicas, como a reserva de um espaço, a colocação de gambiarras, etc. Isto mesmo: os sem-voz, como dona Helena, necessitam de embaixadores improvisados para fazerem as vezes, com ofícios e coisas que tais junto à impenetrável burocracia estatal.

A nota triste

Na festa de sábado, conseguimos espaço, gambiarra e até a cessão de uma equipe de filmagem, pelo governo, para a gravação do sonhado DVD do grupo. Uma alegria para dezenas de famílias, tão fartas de pagodes e parangolés. Idosos saudosos de seus melhores tempos, crianças maravilhadas com uma forma de cultura que não conheciam nem pela TV (principalmente na TV), enfim, uma confraternização de uma comunidade historicamente esquecida pelos poderes públicos.
Na apresentação do sábado, uma mulher incorporou o personagemdoidapara agredir e afrontar todas as famílias presentes, atrapalhando a dança e lançando impropérios e gestos obscenos na direção de todos, evidentemente incomodados com as agressões. A todo momento, pessoas retiravam a figura, conhecida na região comoNegra Lia”, que imediatamente voltava ao local e reiniciava seu espetáculo paralelo. Sem polícia no local (lembram da história do abandono?), moradores ligaram para o 190, que, com uma explicação técnica (para eles, claro), negaram a ajuda.
O pior da história é a ligação da desordeira com o proprietário do único bar beneficiado com a implantação da Orla, o conhecido Kid, que, em outros momentos, tem demonstrado aberta reação à comunidade, em atitudes grosseiras e até recusa em servir moradores locais no seu bar. No carnaval, o Kid (nome apropriado ao perfil) ordenou a retirada de ambulantes que tentaram vender alguma coisa no calçadão, assumindo assim as funções de xerife e se arvorando substituir o papel das autoridades.

Providências

Com tantos movimentos em defesa da agora chamada Zona de Expansão, esperamos que a vontade de mudança na região se traduza em ações concretas, como esta, voltada para a cultura, cidadania e segurança, evitando a ação nefasta de coronéis de bairro, xerifes autonomeados para defender seus interesses, geralmente comerciais.
Por fim, que essa trave no olho não ofusque a beleza da festa e a sensibilidade do governo do Estado e da PMA em apoiar uma das mais ricas manifestações de nossa cultura.  

Um comentário:

Eugênia Deda disse...

Luciano,

Já tomaram uma providência contra esse tal xerife, o Kid? Dia desses, passando por lá, eu e Gilberto percebemos que a comunidade local detesta o tal dono do bar.