quinta-feira, 24 de março de 2016

Não existe o lado bom e o lado mau na crise brasileira

O golpe começa, primeiramente, pela Globo

A manchete do Bom Dia Brasil: "STF reage à declaração de Dilma de que o impeachment é golpe".
A matéria. Duas falas, duas tão somente, de Dias Tóffoli e de Carmen Lúcia. Ambas as falas são pontuais: impeachment é previsto em lei, portanto, não é golpe.

A declaração da Dilma, na véspera: o impeachment, na forma sistemática com que tem sido referida, sem acusações formais e concretas, é um golpe.
O que fez a Globo. Omitiu nas entrevistas com os ministros do STF as observações da presidente, fundamentais ao contexto, resultando em perguntas secas, descontextualizadas. Algo como: "a presidente disse que impeachment é golpe. O que o sr. (ou sra.) acha disso?" Isto, sim, é golpe. É falseamento da realidade, omissão deliberada e criminosa. Manipulação, desonestidade, parcialidade. Violação da democracia.

Não fui à manifestação do dia 18 porque, como se viu nas fotos, as comissões de frente são parte do problema. Minha atitude é clara: defender a democracia. Mas os desmandos, roubalheira e incompetência devem ser punidos, sem perdão. Os partidos envolvidos na trama deverão sucumbir, primeiramente, pelo voto do eleitor, afinal, o voto é a base da democracia. Ou não? Ou só vale a "minha" ideia de democracia? As ações na justiça devem prosseguir e justiçar os responsáveis, mas de forma limpa e honesta, simétrica e não seletiva. Não é o que ocorre. Assim, enquanto isso não for reparado, O GOLPE TAMBÉM É DA JUSTIÇA!

Votei em Dilma porque não havia nome menos pior. Já sabia da barafunda que se avizinhava. Fui num ato público de apoio em Aracaju às vésperas do segundo turno. Não que o personalismo, a energia e a oratória de uma pessoa indistintamente sejam fundamentais à capacidade de governar. Mas governar é exercer liderança com sutil habilidade, coisa que a postura dispersiva e vazia da presidente deixava a desejar. Como disse, votei na alternativa possível, meu voto útil para não favorecer a bandalheira de sempre, os 40 mil vezes 40 ladrões liderados pela iniquidade que atende pelo nome de Aécio Neves. Agora eu, como outros 54 milhões de eleitores, teremos de aguentar este governo inepto, vacilante, covarde. Os 48% que votaram em Aécio terão que aguardar, porque este número é minoria, embora apertada. Desconsiderar isto é golpe. É quebrar as regras, se o Brasil quiser funcionando dentro das regras e ser considerado, ainda, um país civilizado.

O impeachment com denúncia procedente está previsto em Lei - e nem precisa perguntar a ninguém, porque está na letra da Lei. Se houver indícios, que se apure e se cumpram os ritos, até a decisão final. Sem isto, é golpe! E para um golpe só a energia das ruas para decidir.

Dilma não tem mais condição de governar com o governo que montou, porque sem apoio e legitimidade. Mas a renúncia só agravaria a crise institucional. A solução é um governo de coalizão. Juntar os cacos que sobraram dessa frágil democracia, invocar a governabilidade e, aí sim, fazer um governo pensando nos 48% insatisfeitos. Todas as alternativas anteriores à solução só vão aprofundar a divisão do país, com riscos imprevisíveis.

A saída é política e com os políticos. O Congresso está apodrecido, mas tem que ser de dentro dele a solução. Negar o Congresso porque é podre é uma mentira. TODOS os setores da sociedade brasileira, TODOS ELES, até os clubes de mães e das meninas virgens de 15 anos estão apodrecidos. NINGUÉM tem autoridade política ou moral para atirar mais lama nos políticos brasileiros. Como dizia o poeta Cazuza, "somos todos iguais em desgraça".


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