Sempre associei
Gabriel Garcia Marquez ao meu pai. Vem daí, talvez, além da admiração nutrida
por todos que um dia se aventuraram por sua literatura, o amor filial que tinha
por ele. Acho que era o jeitão de homem simples, direto, sincero e brilhante
nas maneiras de levar a vida. E uma certa semelhança física. Papai era assim,
meu ídolo maior, como Gabo, um homem vindo da roça e da cultura de sofrimento e
luta dessa nossa América Latina. Mas a relação maior é que foi Papai quem me
apresentou a Gabo, na sua vasta biblioteca, onde o filho de Aracataca
comparecia, creio eu, com todos os títulos. Papai, um sertanejo do Carira; ele,
também um homem do semi-árido. Sua Macondo é, ainda hoje, como as aldeias que
nos cercam aqui no Nordeste. Nos anos de mestrado e doutorado me impus como
disciplina só ler os textos da insípida economia política da comunicação,
abrindo mão das delícias da literatura. Quando, já no final, vendo já o ocaso
de Papai, voltei a viver em Itabaiana (nossa Macondo), dedicava alguns momentos
diariamente à leitura de “Viagem à semente”, uma de suas biografias. Antes de
pegar no pesado na aridez de minha tese, gastava os primeiros 30 ou 40 minutos
de cada manhã lendo a vida do Gabo, ali do ladinho do meu velho querido,
sentindo seu cheiro, o olhar cansado, a cumplicidade que todo pai tem com o
primogênito. E de vez em quando eu interrompia as leituras dele (João Correia
leu até praticamente o fim da vida, de forma quase compulsiva), para comentar
uma coisa, fazer alguma comparação com nosso mundo tão realisticamente
fantástico quanto o de Garcia Marquez.
Um comentário:
Belas lembranças em belas palavras.
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