Fui ver um “concerto de reggae”, conforme prometido e anunciado, com o maior nome do reggae jamaicano (para mim é o insuperável Gregory Isaacs, a quem conheci nos anos 90, em São Luís, mas essa é outra história ). Chegamos em cima da hora e, quando entramos, a apresentação já rolava. Naquela noite , 28 de julho , fazia uns 35 graus em Madrid, mas o choque térmico foi espantoso : dentro do “espaço ” estava aí pelos 45 ou 50 graus . Espaço é modo de dizer , porque aquilo é uma garagem subterrânea , fechada, sem outra saída senão a mesma escada por onde descemos todos , os quase mil que agitavam e dançavam e bebiam e fumavam e gritavam ao mesmo tempo .
Foi aí que meus amigos Fernando, jornalista e regueiro 100% envolvido com a causa , e Sandra, idem , usaram suas influências para passarmos ao espaço Vip. Calma lá quem pensou nas festas fabianísticas de Aracaju, com ar-con, bebida degrátis e mulé xerosa por perto . Naaadaaa. O cantinho Vip era tão ou mais cheio do que a geral da patuléia . Sem falar que não tinha como sair para comprar bebida (seria o mesmo trabalho , pra efeito de comparação, que atravessar o Forró Caju em noite de São João para comprar uma cerveja do outro lado da multidão ). Ali ficamos, bailando o melhor reggae da Jamaica e derramando baldes de suor continuamente. Rios de suor corriam pelo rego da bunda e desciam até as meias (pois é, eu levei a sério a idéia de um “concerto ” e fui de tênis e meia ). Decididamente , isto precisava de um basta . Pois deu.
Na terceira ou quarta música , nosso astro pop internacional , negão forte como um jacarandá , mas já na flor de suas 65 velinhas, não agüentou a sauna madrilena e foi correndo pro hotel . Na saída , encontramos o motorista que havia conduzido o pobre astro desidratado e ficamos sabendo de sua igual indignação . Da parte dos (dês )organizadores , no entanto , nem um aviso, um boato que fosse, explicando os motivos do concerto acabar antes da hora . O ar-con havia quebrado , justo naquela noite , embora eles não comunicassem a nenhum dos que entravam. Calor e superlotação , um barril de pólvora pronto para , quiçá , uma tragédia maior . Nem os forrós do meu Mosqueiro exibem tanto desrespeito com o consumidor . Menos mal . Fomos encher a cara nos bares da Gran Via , aí , sim , lugar de gente civilizada. Pois !
Luciano Correia
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