“Eu havia
recém-chegado da estação Trianon-Masp e as barbies de Santa Catarina ainda me
deslumbravam, a mania do ‘Paraíso’. O gado de corte deve achar aquilo lá, o
pasto e o pôr-do-sol nas pradarias, ‘um paraíso’. É isso aí. Um lugar espremido
entre o épico que é o Rio Grande do Sul e as esquisitices do Dalton Trevisan,
em Curitiba. Vera Fischer é mulata do morro do Alemão. Um lugar que exporta
barbies pros puteiros de luxo de São Paulo. Uma população bovina e trabalhadora
e uns bobalhões tatuados. Surfistas, místicos franqueados pela Apae e
estabelecidos com CGC, guia de recolhimento do Darf e IPTUs atrasados,
granoleiros e caipiras em geral, gente branquela”.
“Múúúúúúú, gado.
Um careca sinistro governador e a mulher dele, a fanhosa Chanel, prefeita da
capital reeleita no primeiro turno. O Paraíso – só se for... – dos pilares de
gesso ‘estilo Barbie boqueteando Julio César’ e dos neons triunfais nos solares
do ‘Residencial Vovó Olga Favaretto’ e afins, paisagens de topetinho. O inferno
(quer dizer, o paraíso) dos bailes de debutantes e dos colunistas sociais
semi-analfabetos dos jornais de bairro, com direito ao ‘Danúbio Azul’ e muito
laquê nas mães e as filhas cafungando pó, chupando pica e dando o rabo.
Igualzinho ‘na televisão’. Uma coisa só. Qualquer lugar me servia em 1990. Onde
o Judas perdeu as botas ou no inferno – agora sim, tamanha a carência e o
desespero em que eu subia e descia as escadas rolantes da estação São Joaquim
do metrô, em São Paulo. Do jeito que eu tava, seco e sem nunca ter fudido uma
buceta de graça, qualquer lugar me faria feliz. O inferno, por que não este
lugar?
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