Do escritor
Ricardo Lísias, na apresentação de “O azul do filho morto”, de Marcelo Mirisola:
... Mirisola
denuncia a banalidade da vida burguesa, o ridículo das questões familiares, o
tédio do culto ao corpo e o patético – que aqui nunca será matéria de poesia –
de todo tipo de relacionamento afetivo, muito bem simbolizado pela expressão
preferida dos casaizinhos tontos e felizes: “né, morzão?”.
... Não é este,
portanto, um livro que celebra a felicidade da classe média que, crescendo nos
anos setenta, solidifica-se durante a década de oitenta, compra uma mesinha
para o centro da sala, uma churrasqueira e coloca as crianças no carro para
passear no final de semana prolongado no litoral. Na praia, o narrador de O azul do filho morto urina dentro de
uma garrafa de cidra e, solitário como costumam ser os grandes leitores,
recusa-se a participar da festa.
Agora, doses do
filho morto, Mirisola:
- Oh, meu Deus.
Se Deus existisse e tivesse o mínimo de talento e bom gosto, declinaria – antes
do homem - do paraíso e, por conseguinte, dos efeitos especiais e de uma legião
de santos desnecessária, beatos, filhos da puta e duplas sertanejas. O que é o
Apocalipse senão um enredo mequetrefe do Ultraman sem o fecho ecler? Oh, Deus!
Isso é coisa do homem, Igrejas, Sex Shops, o mal gosto intrínseco e os suvenires
comprados em Aparecida do Norte. Tô de saco cheio dessa masmorra sadomasoquista,
dos palpites do Gilberto Gil, deste “mix” de canalhice com chupação de pica e
da porra da alminha brasileira atulhada de merda, pra mim, bastaria praticar o
perdão do pai-nosso com uma boa dose de indignação, luxúria e senso crítico. Isso
quer dizer, entre outras coisas, descartar a semiótica fascista do Décio
Pignatari e os efeitos especiais em geral, deixar o diabo de lado. Que é outra
falcatrua, aliás. O puto vive a se omitir em minhas preces, pragas e orações.
Vida de tatu
filhadaputa. Em 1989, tive meu primeiro original recusado: Um pouco de Mozart e genitálias. Bem, azar de quem recusou. Para
mim, os editores – com exceção do meu que está pagando uma merreca pr’eu
escrever este livro - são todos uns chupadores de pica, analfabetos. Cegos por
opção, degenerados, mercenários e débeis mentais. Vale a mesma coisa pros
jurados de concursos literários e pros poetas em geral. Odeio poetas.
Pior que poeta,
só livro psicografado. Esse tal de Emmanuel é um espírito de porco, apenas não
é mais conservador, tarado e mau caráter do que escritor de livro infantil
(incluo aí os autores de auto-ajuda e policiais, enredo é coisa de criança). Os
irmãos Gasparetto o recebem (ou gerenciam, o tal do Emmanuel) via anal – de quatro
– bundinha virada pros céus. A mãe deles, dona Zíbia, é a cópia fiel da minha
madrinha, vai na mesma cabeleireira. Fui batizado na Igreja do Calvário. Os exus
e orixás, todavia, são mais honestos porque são deliberadamente analfabetos,
não escrevem livros bem-intencionados. Sincretismo dá nisso.
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