A mídia se alimenta de patacoadas , ainda mais se vierem, como diz Elio Gaspari, do andar de cima . Sempre que uns figurões trocam alianças , irrompem no noticiário bobagens como “o casamento do século ”. Todo século é pródigo nesses enlaces , como o que vai acontecer na próxima sexta , 29. Há um mês a Globo News nos bombardeia com o casamento do século da hora , do príncipe William com a plebéia Kate. De tal modo que na sexta passada eu acordei atordoado com a idéia , em busca de uma alternativa de canal que me livrasse da transmissão da cerimônia . Nem me dei conta que era sexta da Paixão , portanto , improvável para os pombinhos infernizarem as telinhas do mundo com o midiático evento .
Respirei aliviado e ganhei mais uns minutos de sono , mas desta sexta ninguém escapa : ou busca um canal comunista que esteja se lixando para a família real britânica , ou desliga a TV e vai pescar longe de todos . Isto porque o frisson já contaminou homens e mulheres , inclusive brasileiros , que , sabe-se lá porque , consideram o assunto relevante para suas (nossas) vidinhas. E relevante não é. Nem o casório nem a monarquia inglesa, cuja existência , por si só , é cada vez mais motivo de contestação por vários setores e personagens da vida real (de realidade , não de nobreza) no próprio país .
O Manhattan Conection desta semana , com a tabaroíce típica dos colonizados, dedica exaustivos minutos à questão , sem , no entanto , deixar de dar suas mordidinhas. Lembram que , na Inglaterra, há quem defenda a renúncia conjunta da Rainha e do boa vida do Charles , um sessentão que nunca pegou no batente e vive das facilidades e negócios da famiglia real . E que , apesar disso, ele foi um tipo menos certinho numa linhagem de formalismos e frescuras , tanto que deixou a (na visão do Manhattan) deslumbrada Diana para encarar o amor verdadeiro com uma namorada da juventude . O bom desse programa é esse desprendimento para derrubar unanimidades: enquanto o mundo adora uma princesa sempre em busca de celebridade , supostamente por enfrentar a caretice da nobreza britânica , os caras mostram o quanto Diana se contorcia para os holofotes , como era fútil em suas paixões por roupas de marcas e coisas que tais .
Um comentário:
Como vc escreve bem, Luc!
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