O outono , enfim
Salamanca
No finde passado fui a um congresso da Ulepicc Espanha, a União Latina de Economia Política da Informação , Comunicação e da Cultura , mesma entidade da qual sou sócio na sua seção brasileira , que aloja os pesquisadores identificados com minha linha de pesquisa . O congresso daqui foi uma beleza , organizado, produtivo , sem as firulas de vaidades acadêmicas: nove horas de ricas discussões e depois .... festa , que também somos gente . E é claro que não ocuparei o tempo de meus ocupados leitores com a chorumela espanhola da Ulepicc. Vamos a Salamanca, que é o que interessa.
O finde semana do congresso coincidiu com a popularíssima festa da Tuna, tradicional manifestação da Europa, surgida nas universidades , que celebra a música e a dança pelas ruas das cidades em períodos determinados do ano . A daqui foi belíssima, com um desfile dos grupos paramentados, cantando e tocando por todas as ruas . De noite a festa vai ficando mais profana e os rapazes , com as respectivas madrinhas , entram nos bares para celebrar junto aos demais .
A bagaça foi até quatro e pouco da manhã , com um frio de rachar . Não precisa dizer que o sábado seguinte foi dedicado a programas inofensivos , como , primeiramente , se curar da ressaca e, depois , visitas às catedrais e à Universidade de Salamanca. Na igreja fiz um juramento : não bebo nunca mais !
Uma rã
O turismo e a abestalhada figura do turista são duas das coisas que , não raro , beiram o grotesco . Isso , em qualquer lugar do mundo . Eu mesmo já vi de tudo , em matéria de besteira e falta do que fazer . Em Salamanca, num dos prédios da universidade , construíram uma fachada belíssima, em estilo barroco , com milhares de pequenas esculturas , de deuses a diabinhos, monstros , reis e rainhas , animais e objetos . Dentre os bichos , cravaram na parede , justamente sobre a cabeça de uma caveira , uma pequeníssima rã , este simpático animalzinho que , não por acaso , vem a ser o símbolo da cidade . Pois vocês sabem qual é o programa obrigatório e imperdível para todo viajante que visita Salamanca? Acertou quem disse procurar o tal sapinho naquele emaranhado de figuras minúsculas penduradas numa parede imensa . Meus companheiros de viagem me incumbiram da obrigação . Pois ! Pelo que me conheço, ficaria ali o resto da vida , sem encontrar a pestinha. Ainda bem que um gaiato , com uma dessas canetas de raio laser , iluminou a bichinha e encerrou a questão .
A viagem
Pode-se ir a Salamanca por vários meios , mas preferimos o trem , uma confortável acomodação, rápida e segura , que em duas horas e meia faz o trajeto desde a estação de Chamartin, em Madrid. Paguei 27 euros , mas tinha 30% de desconto graças ao congresso . Mas , ainda assim , é barato , pela qualidade e tranqüilidade , aquilo que os jornalistas chamam de custo-benefício.
Fiquei pensando porque o nosso calejado Brasil não conta com estruturas assim , de estradas de ferro modernas e capazes de vencer as longas distâncias sem a carnificina das estradas . Agora mesmo o governo Lula , que eu apoio , não obstante esse fato , está licitando o famigerado trem-bala de São Paulo ao Rio . Ou seja, entortaram a maravilhosa idéia do trem por uma maluquice faraônica que vai custar mais de R$ 30 bilhões , dinheiro que daria para fazer uma ferrovia ligando Fortaleza a Porto Alegre , por exemplo . Mas é o Brasil e suas coisas inexplicáveis . O governo Lula , da restauração do Estado e do serviço público , da ressurreição das universidades e do combate efetivo à pobreza é, também , o governo dessas invencionices .
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