Sem tempo algum para movimentar o blog, publico aqui texto do blogueiro Regis Tadeu, sobre a histeria em torno da figura midiática de Justin Bieber, o cantorzinho (com perdão do trocadilho) que recém provocou histeria no Brasil. Não preciso dizer que concordo do começo ao fim.
Confesso que tenho certa dificuldade em assimilar
e deglutir tudo que vejo e ouço em relação a "ídolos teen". Principalmente, nos dias de hoje, em que
ser adolescente é ter intelectualmente a mesma força de uma bolha de sabão no
meio de um vendaval.
Não,
não vou escrever aqui um texto dominado pelo calor da fúria, mas no exato
momento em que você lê estas palavras, posso afirmar categoricamente: 99,9% dos
pais lamentam muito, mas MUITO mesmo, o fato de suas filhas serem fãs de um
ídolo teen tão vazio, plastificado e sem alma quanto Justin Bieber. Poucas
vezes a sensação de "onde foi que nós erramos?" foi tão nítida nos
pensamentos de uma família. Nenhum pai ou mãe vai admitir isto, mas é a
verdade.
Tudo
bem que o moleque superstar com o cabelo milimetricamente engomado
tem apenas dezessete anos, gravou dois discos e se tornou a peça central de uma
engrenagem de sonhos para adolescentes debilóides, na qual a música é o
elemento menos importante. Infelizmente, tudo é meticulosamente encenado para
cativar uma geração de meninas que só conseguem exprimir suas emoções com
coraçõezinhos feitos com as duas mãos. Mas existe algo que me incomoda demais
nesta história: a conivência dos pais.
Não
se preocupe, pois não vou soltar aqui um discurso moralista e babaca a respeito
da falta de pulso dos pais na educação de seus filhos. Aliás, para quem teve
uma educação rígida e criminosamente militar por parte de meu pai, contra a
qual me rebelei veementemente durante toda a minha juventude, não faria sentido
assumir uma posição conservadora neste sentido. Mas ao ver mães e pais com
expressões de sofrimento disfarçadas de paciência, compreensão e uma alegria
tão verdadeira quanto uma nota de R$ 30, fico simplesmente estarrecido.
Não
sou pai e confesso que fico muito irritado quando vejo estas meninas chorando
convulsivamente pelo tal de Bieber. Fico ainda mais enojado com o
pseudodiscurso do fedelho, tão "simpaticamente correto" quanto falso.
Não sei se você sabe, mas este papo "faria qualquer coisas por minhas
fãs" é uma das mais celebradas e deslavadas mentiras do show business.
Tudo é alimentado para que na cabeça de meninas que não sabem nada a respeito
de sua própria sexualidade seja mantida a esperança de que cada uma pode vir a
ser a "namorada do Justin". Ninguém está ali pela música, mas pela
"beleza" do menino. Mas também tem outra coisa que me incomoda
muito...
Quer
saber? Pais e mães que acompanham as filhas nestas "roubadas" não
estão lá por serem "companheiros", mas sim por conta da culpa. É,
culpa. Por causa de uma educação equivocada, de uma cada vez mais constante
ausência em casa por conta de seus compromissos profissionais ou por pura
negligência emocional, os pais se submetem a este verdadeiro inferno que é
acompanhar suas filhas a um show do Bieber. Tudo pela culpa que sentem
por não estarem presentes nos momentos que as crianças mais precisam de
atenção, orientação, diálogo e, principalmente, amor. É duro encarar esta
verdade, não? Eu imagino...
Não
precisei ir até um dos shows que o Bieber fez no Brasil para
verificar que quase 60 mil pessoas a cada apresentação estão sendo enganadas o
tempo todo. Enganadas com o uso massivo de playbackspor
parte do ídolo teen,
submetidas aos preços extorsivos cobrados de qualquer coisa vendida dentro do
estádio — de cachorro-quente a camisetas oficiais — e, para piorar ainda mais a
situação de quem é "cúmplice" disto, às voltas com uma corja de
salafrários que atende pela alcunha de "flanelinhas", que chegaram a
cobrar R$ 150 de pais desesperados por causa dos berreiros das filhas para
estacionar o carro. Estacionar na rua, diga-se de passagem...
Não é
de hoje que esse tipo de picaretagem de shows em playback roda o mundo e aporta por aqui.
Michael Jackson, Madonna, Britney Spears e mais recentemente a tal de Ke$ha são
apenas alguns dos nomes que já estiveram no Brasil trapaceando em cima de seus
"fãs adorados" na hora de tocar e cantar para valer em cima do palco.
Só não percebe quem é fã. E fãs, como vocês sabem, são todos idiotas...
Assim
como idiotas são os pais que, por exemplo, permitem que meninas que sequer
tiveram a primeira menstruação passem acampadas duas semanas antes da abertura
dos portões dos locais onde Bieber vai se apresentar, apenas para ganhar alguns
centímetros mais próximas de seu ídolo. É como se as fãs fossem espermatozóides
e Bieber o óvulo onde haverá uma "fecundação" histérica e
pré-orgásmica de uma puberdade tão latente quanto vazia.
Por
conta da culpa que citei acima, mães buscam se tornar "companheiras"
das filhas, permitindo que elas façam qualquer coisa — perder aulas, se
alimentar de maneira porca e incompleta, não tomar banhos e até mesmo acampando
junto com elas — para que realizem o sonho de respirar o mesmo ar de Bieber.
Pais desesperados entram em contato com quem quer que seja para arrumar
convites e credenciais para o show e para um possível acesso aos
bastidores, a fim de acalmar o inferno em que suas vidas se transformaram desde
que os shows do moleque foram anunciados. É duro encarar esta verdade, não? Eu
imagino...
É
triste perceber que não há mais espaço para a famosa história do cara que não
tinha outra coisa a fazer a não ser montar uma banda. A molecada hoje vive
sozinha, trancada em seus quartos, dentro de apartamentos, conversando com
amigos via internet. Não há mais
celebrações cotidianas coletivas, ninguém mais ouve discos junto com os amigos.
É por isto que quando se encontram, a meninada perde facilmente o controle
sobre seus próprios hormônios. Tudo aquilo que a música podia proporcionar em
termos de anticonformismo, de vanguardista rebeldia contra um sistema opressor
e a mesmice foi transformada em um vergonhoso pastel de isopor.
E
isto vale até mesmo para um terreno em que nada é levado a sério, que é o mundo
dos ídolos adolescentes. Se você acompanhar a evolução dos tempos, vai perceber
como a qualidade musical deste tipo de artista decaiu assustadoramente. Dos
Beatles e Roberto Carlos nos anos 60, enveredamos por David Cassidy e Secos
& Molhados nos anos 70, Xuxa, RPM e Menudos nos anos 80, Mamonas Assassinas
nos anos 90 e... Deus do céu, e tudo isto para desaguar em Restart e Justin
Bieber. Sentiu o declínio?
A
massificação da mediocridade exalada pela TV, por exemplo, proporcionou e
incentivou o surgimento de uma horda de adolescentes que mal sabem se expressar
em palavras, que optam por gritos histéricos, expressões e pensamentos
asininos. E este processo idiotizante, provavelmente, vai formar toda uma
geração de babadores de ovos que vai acabar influenciando as outras
posteriormente.
Desculpe,
mas isto não significa que tenho que ser conivente e testemunhar passivamente a
molecada esperar, tal como frangos em um matadouro, a substituição do binômio
som/fúria por uma conformidade imbecilizante. Também não tenho mais saco para
ver uma pivetada vociferando gírias patéticas e palavrões gratuitos só para
dizer que está na "contracorrente do sistema". Sou um velho, minha
geração é velha, meus pensamentos são velhos, mas não vou aceitar tudo isto e
me comportar como um garçom em festa de buffet infantil, que tudo faz para não irritar
o "patrocinador".
Sou
de uma geração que não abaixava a cabeça na frente de um "não", que
derrubava a cristaleira do bom mocismo, que apedrejava as vidraças da humildade
subserviente. Por isso, meu coração se enche de som e fúria quando vejo meninas
e meninos que poderiam fazer a diferença em um futuro não tão distante se
entregarem a gritos histéricos gratuitos e gestos/expressões imbecilizantes.
Hoje,
tudo o que eu posso fazer contra isto é escrever um texto como este.
É
duro encarar esta verdade, não? É, eu imagino...
Por: Regis Tadeu
Nenhum comentário:
Postar um comentário