Tenho uma leve
queda pelo Santos ,
da cidade que abrigou
muitos de meus conterrâneos
macambirenses, mas , ao contrário
do que diz o bloco carnavalesco ,
simpatia nem sempre
é amor . Minha paixão
pelas três cores da faixa
do Tremendão da Serra , o glorioso
Itabaiana, é – para além da emoção
– um ato de resistência
à pasteurização do futebol via televisão ,
baseada num modelo de negócio
que empacota a adesão
dos jovens a algum
dos clubes presentes
na série “A” do Brasileirão. Neste modelo ,
não há lugar para
o pequeno e o local . Isto
acontece também com a
cultura e não por
acaso a televisão é a
mesma via de introjeção
de uma cultura global
hegemônica e massacrante. O mesmo
ocorre com as pequenas
línguas nativas ameaçadas de desaparecerem – são
três mil que
correm o risco de sumir neste século .
A força
bruta da publicidade
fez com o futebol algo
que pretendia com a política :
com o patrocínio das
TVs, o teatro das torcidas
nos estádios perde força
e, a essa altura , nem
é mais a principal fonte
financiadora do esporte . Os estádios ,
contra toda lógica ,
têm sua capacidade
reduzida. Vejam o exemplo do Maracanã ,
que chegou a receber 200 mil
torcedores , mas , quando
fechou as portas , há dois anos ,
não cabiam mais que
80 mil . Com a política
intentou-se o mesmo : transferir
da praça para a telinha o vigor
do debate público . A platéia
das praças foi esvaziada.
Stultifera e o moderno
teatro sergipano
O Sytultifera Navis não
é a única novidade
nesta nova cena sergipana .
Conversando com o público
de sábado , me
informam que cerca de
500 bandas musicais sobrevivem no estado ,
percorrendo circuitos alternativos ,
divulgando pelas redes sociais .
Mas o caso deste grupo
teatral em particular
é emblemático , pelo trabalho
que Lindemberg vem tecendo desde
que aportou aqui , já
há alguns pares de anos ,
materializado na luminosa surpresa
da Casa Rua da Cultura ,
experiência inspirada no projeto
Rua da Cultura , no Mercado ,
estendida para um espaço
amplo para oficinas
de circo e teatro , além
das próprias salas para a apresentação
de peças .
Fiquei comovido com
a presença de um público
jovem e arejado, interessado em
cultura , lotando as três
apresentações de diferentes
peças na noite do sábado .
A Casa apresenta peças
em temporadas , em
vez das exibições
avulsas, criando um circuito
consistente, baseado na oferta constante
e na consolidação do hábito . A direção
de Lindemberg em “Cabaret...” é leve
e segura , com uma brilhante
geração de atores , que
muito me lembrou um
moderno teatro que
assisti na Faculdade de Teatro da
UFBa, quando o genial
Walter Seixas Jr. brindava o público com
suas montagens
glauberianas, do próprio Glauber a Nelson Rodrigues. Isto
foi nos profícuos anos
80 e eu achei que tinha
se perdido nas minhas melhores
memórias . Minha ida
à Casa mostrou que não ,
com a vantagem de que
esta cena está aqui ,
na nossa casa .
Um comentário:
Ola, Luciano!
comentando de novo ja que o outro comentario parece que não entrou.
obrigado pelos comentarios e pela crença depositada no nosso projeto. aprendi com um dos meus mestres que futebol e teatro tem muitas coisas a compartilhar, no jogo, no drama e na emoção que contamina a platéia ou torcida.
O jogo do teatro sergipano ainda não esta ganho, mas temos craques de sobra para fazer nossa torcida vibrar.
grande abraço e sucesso na nova tarefa a frente da fundação aperipê!
lindemberg monteiro
diretor artistico da cia. de teatro stultifera navis
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